1. Introdução:
As grandes navegações marcam um período da
História européia onde os horizontes se alargam enormemente. É achado o fim do
continente africano, entra-se em contato com civilizações do Oriente e do
Extremo Oriente e no século XVI, uma expedição espanhola liderada pelo português
Fernão de Magalhães comprovaria que o mundo é redondo através da viagem da
circunavegação. Não se deve perder de vista, no entanto, o sentido de toda essa
expansão marítima. O objetivo central dos europeus era obter riquezas.
2. Transição da Idade Média à Idade
Moderna:
. A Baixa Idade Média: A Idade Média – séculos
V ao XV – é marcada pelo sistema social feudal na Europa. A Idade Média é
dividida em duas, a Alta Idade Média – séculos V ao X – e a Baixa Idade Média –
séculos X ao XV. Nessa segunda parte as invasões estrangeiras diminuem bastante,
levando a população e a produção a aumentarem na Europa. Isso leva a um comércio
maior, ao surgimento de feiras e cidades, é o chamado Renascimento comercial e
urbano. O feudalismo se expande dentro e fora da Europa, um exemplo conhecido é
o das Cruzadas para o Oriente Médio, outra área de expansão é a península
ibérica.
. Do feudalismo ao Antigo Regime: Com o
crescimento vertiginoso das cidades, do comércio e do artesanato, a relação
feudal entre senhor e servo – que era de grande exploração a este último – vai
perdendo sentido, principalmente quando os servos começam a fugir para as
cidades. A servidão e o feudalismo entram em sua crise final no século XIV,
chegando logo ao seu fim. A sociedade feudal dá lugar à sociedade de Antigo
Regime na Europa Ocidental a partir do século XV. No Antigo Regime, os nobres e
o alto clero perdem poder, mas ainda são os grupos dominantes da sociedade. As
monarquias passam agora a ser centralizadas, com grande poder na mão dos reis.
Existe, ainda, uma classe que surgira na Baixa Idade Média: a burguesia. Esta
não tem o poder sobre o Estado, mas terá grande influência junto a este.
3. Portugal, do surgimento à expansão
marítima:
. O surgimento de Portugal: Na guerra de
Reconquista na península ibérica, nobres da Europa lutam contra os mouros –
muçulmanos que dominam a península desde o século VIII. Várias são as casas
nobres que fazem essa luta, uma delas é a de Borgonha que funda o condado de
Portucalense. Em 1139, esse condado é declarado país livre sob o nome de
Portugal. Tratava-se neste momento de uma monarquia feudal, onde os senhores
feudais eram poderosos, apesar da forte centralização da monarquia
portuguesa.
. A vocação comercial: Logo, a região ganharia
importância comercial, por ser entreposto marítimo entre as duas principais
regiões mercantis da Europa, as cidades do Norte da Itália e a região de
Flandres – que hoje abarca a Holanda, a Bélgica e parte do Norte da França.
Isso, em um momento onde a viagem por terra era perigosa e custosa. Ficará
ascendente neste momento a burguesia no país.
. Revolução de Avis (1385): O reino de Castela,
no entanto, considerava Portugal como um condado vassalo. Em uma disputa de
trono, a grande nobreza portuguesa – almejando mais poder – alia-se ao rei de
Castela contra um pretendente ao trono português, João de Avis, que é aliado da
pequena nobreza, burgueses e artesãos portugueses. Este último vence, dando
total independência a Portugal e pondo fim ao feudalismo no país.
. Expansão marítima: Como Portugal foi o
primeiro país europeu a ter uma monarquia absoluta ainda no século XIV, vai ser
o primeiro a se expandir ao mar, havendo para tal um grande incentivo da Coroa.
A expansão tem início em 1415 com a tomada de Ceuta – cidade muçulmana no Norte
da África – e atendia aos interesses da nobreza e da burguesia. Portugal parte
então às ilhas atlânticas e ao continente africano em busca de riquezas, em
especial, de metais.
. Tratado de Tordesilhas: O segundo país
europeu a se expandir para o Atlântico foi a Espanha. Esta – só unificada em
1469 – descobriu a América em 1492, pensando no período que aquelas terras eram
o Oriente. Em 1494, Portugal e Espanha dividem o mundo em dois através do
Tratado de Tordesilhas.
. O comércio indiano: Portugal tem grande
sucesso nessa expansão marítima inicial. Acha minas de ouro e prata na África,
desenvolvendo ali também um importante comércio. Ainda, em 1498, descobre o
caminho para as Índias, região onde haverá os principais entrepostos comerciais
portugueses no ultramar. Esse é o período de maior prosperidade na história de
Portugal. De 1500 a 1520, chegam em Portugal 200 kg de ouro africano por ano.
Até 1530, Portugal terá o monopólio sobre o ouro africano e sobre o comércio
indiano. Esse monopólio é mais um fator de lucro para os comerciantes lusos e
para o Estado português.
História do Brasil - 2 - O descobrimento do
Brasil e as primeiras décadas da colônia
1. Introdução:
Em 2000 o governo brasileiro fez uma ampla
programação de comemoração dos 500 anos de descobrimento do Brasil. Colocam-se,
então duas perguntas: será que o Brasil começou a ser colonizado em
1500? E será que a colonização é um motivo para
se comemorar? A resposta à primeira pergunta está logo a seguir, a resposta à
segunda ficou clara no próprio calendário das comemorações, onde em cada evento
havia junto uma manifestação indígena rememorando a dor dos povos nativos
trazida pela colonização portuguesa.
2. O período pré-colonial (1500-1530):
. O descobrimento e o comércio indiano: Após a
assinatura do Tratado de Tordesilhas, Portugal continua dando destaque ao
comércio com as Índias. Em uma dessas viagens, a frota de Pedro Álvares Cabral,
aporta no litoral da América, reconhece o território e segue a sua viagem para a
Índia.
. O escambo de pau-brasil: Expedições feitas
pela costa brasileira em 1501 e 1502 contatam naquele tempo que a única riqueza
local era o pau-brasil, uma madeira tinteira. Esse passa a ser explorado em
contrato de monopólio e não é explorado de fato pelos portugueses, mas comprado
aos índios sob forma de escambo.
. A presença estrangeira: Mais que os
portugueses, neste período e mesmo depois do início da colonização, estavam
pressentes outros estrangeiros no território da América portuguesa, em especial
os franceses, que eram os principais compradores do pau-brasil dos índios.
3. A colonização de fato:
. A motivação da colonização: A partir de 1530,
a Coroa portuguesa se decide pela colonização do Brasil. Os motivos para tal
são: a presença crescente de estrangeiros na colônia; a descoberta de ouro e
prata na América espanhola; o fim do monopólio português no comércio indiano e a
consequente crise deste comércio.
. O sistema de capitanias hereditárias: Em
1532, tomou-se a decisão de dividir a colônia em 14 capitanias hereditárias,
doadas a nobres portugueses que teriam a obrigação de povoar, proteger e
desenvolver seus territórios. A grande nobreza e a burguesia portuguesa não se
interessaram pelo empreendimento, deixando-o
à pequena nobreza. O sistema de capitanias não
foi um sucesso porque os colonos não eram poderosos o
suficiente para lutar contra os estrangeiros e
os índios. Não tinham também um farto capital para investir na colônia. Mesmo
assim, o sistema continuou a existir até fins do século XVIII.
. O governo central: Em 1549, a Coroa
portuguesa decide implantar um governo central na colônia com medo da perda do
território para os franceses e após a notícia da descoberta da mina de Potosi
pelos espanhóis em 1545, a maior mina de prata do mundo na atual Bolívia. A
capitania da Bahia foi comprada pela Coroa portuguesa e lá se estabeleceu o
governo-geral, em paralelo ao poder dos donos das capitanias.
. As câmaras municipais: Outra esfera de poder
na colônia que prevalece em todo o período colonial é o das câmaras municipais,
que existiam apenas nas cidades mais importantes. Seus membros, os vereadores,
eram constituídos pelos homens bons, grandes proprietários de escravos e terras.
Em um momento posterior e em cidades mais mercantis, as câmaras foram ocupadas
por grandes comerciantes. Eram importantes centros de poder e de decisão na
colônia e algumas vezes se confrontavam com a Coroa.
. Os cristãos-novos: Importantes na colonização
portuguesa na América foram os cristãos-novos, judeus convertidos forçadamente
ao cristianismo. Mais ainda após a instauração da Inquisição em Portugal em
1547, quando estes passam a ser duramente perseguidos na metrópole.
. A questão indígena: Havia por volta de 3
milhões de índios na América portuguesa em 1500. Os índios
‘brasileiros’ não tinham sociedades tão
complexas como astecas ou incas, mas tinham o controle de uma agricultura
itinerante, a coivara, que iria ser adotada em parte pelos portugueses. Segundo
a ideologia da colonização, a catequização dos índios era o principal motivo da
colonização. Inicialmente, os portugueses fizeram comércio com os índios, mas
com as grandes plantações, começam a utilizar a mão-de-obra indígena à força. O
trabalho compulsório – obrigatório – indígena é utilizado majoritariamente em
toda a colônia até
1600, na maioria das vezes, em forma de
trabalho escravo. Depois disso, com a redução da população nativa, o trabalho
indígena passa a ser substituído pelo trabalho escravo africano nas regiões
centrais da colonização e o braço indígena fica restrito às regiões periféricas,
onde ainda há muitos índios. A Coroa portuguesa, logo no início da colonização,
proibiu a escravidão dos índios, o que era letra morta até a época pombalina.
Mesmo assim, a escravidão dos índios sempre foi liberada em casos de guerra
justa. Houve grande resistência indígena a essas formas de trabalho compulsório,
sendo emblemática a Confederação dos Cariris.
História do Brasil - 3 - A implantação do
colonialismo na América portuguesa
1. Introdução:
É só a partir de 1550 que a estrutura colonial
se impõe de fato na América portuguesa. Trata-se de uma sociedade nova,
diferente da européia. Uma sociedade baseada no trabalho escravo, tanto o
indígena como o africano, e com a produção eminentemente voltada para fora. Era
a sociedade escravista colonial.
2. A estrutura colonial:
. A exploração da cana-de-açúcar: O objetivo da
metrópole portuguesa e dos comerciantes portugueses ao colonizar o Brasil era
conseguir aqui produtos de alto valor no mercado europeu, de preferência metais,
de acordo com os princípios mercantilistas. Apesar da procura, não foi achado
inicialmente nenhum metal precioso no Brasil. Diante dessa ausência, a Coroa e
os colonizadores tentaram outros produtos valorizados no mercado europeu, o de
maior sucesso certamente foi a cana-de-açúcar. O açúcar da cana tinha um grande
valor na Europa e adaptou-se bem ao clima brasileiro, em especial ao nordestino,
onde passou a ser cultivado largamente, tornando-se o litoral nordestino a
região central de colonização nos séculos XVI e XVII. Outros produtos agrícolas
eram também produzidos para a exportação, como o tabaco e o anil.
. O modelo da plantagem: A plantagem – ou
plantation – era a unidade produtora da cana e de outros produtos para
exportação. Eram em geral, grandes propriedades com a maior parte das terras com
produção de cana, mas havendo também outras produções dentro da fazenda voltadas
para a subsistência. Prevalecia o trabalho escravo. Havia uma casa de máquinas,
o engenho, que funcionava com força animal ou hidráulica. O dono da fazenda era
o senhor de engenho.
. Exclusivo colonial e monopólios: Os senhores
de engenho brasileiros vendiam sua produção para comerciantes aqui instalados
que só podiam vendê-la para Portugal, era o exclusivo comercial. Além disso, os
grandes comerciantes portugueses monopolizavam o comércio de certas cidades,
baixando o preço dos produtos coloniais por eles comprados e aumentando os
produtos portugueses vendidos para a colônia.
. O tráfico de escravos: Nas áreas centrais,
onde foram implantadas as estruturas coloniais, começa a faltar braço indígena
com o tempo, devido à morte em massa desses e também à fuga para o interior
do
território. Diante disso, decide-se usar o
braço africano escravo, que passou a ser usado em massa. Ao total,
trouxeram-se 3,6 milhões de africanos para
trabalhar como escravos no Brasil e 12 milhões como um todo para a América. Para
cada um que chegava no Brasil, pode-se contar outro morto na terrível viagem. A
partir de 1600, esse tipo de mão-de-obra vai ser a mais usada na colônia. Os
portugueses não capturavam os cativos na África, mas compravam escravos de
comerciantes africanos. As sociedades africanas continham escravos antes dos
europeus chegarem e com a grande demanda gerada pelo tráfico atlântico de
escravos, essas sociedades passam a multiplicar em várias vezes as capturas
feitas, transformando-as em sociedades plenamente escravistas, as vezes com 70%
da população escrava e exportando escravos para todo o mundo. No Brasil também,
o escravo africano ou afro-descendente vira uma figura frequente na colônia,
constituindo
50% da população colonial no XVIII. O tráfico
de escravos gerava ainda grande riqueza para os traficantes, tráfico esse
dominado inicialmente por Portugal e, depois, por cidades coloniais como Rio e
Salvador.
. O sistema de sesmarias: A princípio todas as
terras portuguesas no Novo Mundo eram do Rei e com as capitanias hereditárias,
algumas terras se tornam particulares. A Coroa e os capitães – donatários das
capitanias – doavam terras a particulares por meio de sesmarias. As sesmarias
eram terras compradas a um preço relativamente baixo, onde o comprador deveria
povoar e colonizar a terra. O problema é que para ser sesmeiro, era preciso ter
influência junto ao Rei ou capitão, por isso poucos tinham acesso à terra.
. A presença holandesa no comércio: Os Países
Baixos tem relações comercias com Portugal desde a
Idade Média e serão importantíssimos na
agromanufatura do açúcar, participando do transporte da cana para a Europa e do
refino do açúcar. Assim, Holanda e Portugal são sócios no comércio europeu do
açúcar, havendo certa desvantagem para Portugal.
. Os jesuítas: Desde o princípio da década de
1550, a ordem dos jesuítas estará presente no Brasil. Essa ordem foi criada na
Contra-Reforma exatamente para fazer a expansão da fé católica no mundo. Eles
serão os religiosos mais presentes no Brasil até a sua expulsão, em 1759.
Possuem várias propriedades e utilizam
largamente o trabalho compulsório indígena,
inclusive estabelecendo as missões indígenas, onde catequizam e
usam da força de trabalho dos ameríndios. Vão
ser importantes também na educação na colônia, são eles que educam os filhos de
senhores de engenho, comerciantes e outras pessoas poderosas na colônia. A
educação, no período colonial, é restrita aos filhos desses grupos
dominantes.
História do Brasil - 4 - O Brasil e as
relações internacionais
1. Introdução:
Se a primeira metade do século XVI foi de
prosperidade para Portugal, o mesmo não se pode dizer para a primeira metade do
século XVII. De 1580 a 1640, Portugal é anexado pela Espanha, o que leva à
tomada do Nordeste brasileiro pelos holandeses. Portugal consegue a sua
independência da Espanha em 1640, tendo que lidar com os holandeses. Diante
disso, endurece as condições dos colonos, o que leva a uma série de
revoltas.
2. União Ibérica e invasão holandesa:
. A União Ibérica (1580-1640): Todo o ouro e
prata explorados pelos espanhóis na América fazem da Espanha a grande potência
européia do século XVI, possuindo territórios em toda a Europa. Diante de uma
questão dinástica, Portugal é anexado pela Espanha de Felipe II, sem poder
reagir ante o poderoso vizinho.
. A curta tomada de Salvador (1624): O problema
é que a aliada de Portugal, Holanda, era inimiga da Espanha. E esta veta a
participação dos holandeses no comércio do açúcar brasileiro. Contrariados, os
holandeses tomam Salvador em 1624, sendo expulsos no ano seguinte por uma
esquadra luso-espanhola.
. A longa tomada do Nordeste (1630-54): Em
1630, com 70 navios, os holandeses tomam Pernambuco e
depois todo o Nordeste, do Sergipe ao Maranhão.
Dominaram ainda portos escravistas na África, dominando, portanto, a produção de
quase todo o açúcar brasileiro e também o abastecimento de escravos para as
plantagens. Era a Nova Holanda, a principal colônia holandesa na América.
. O governo de Nassau (1637-44): Dentro do
período holandês, destacou-se o governo de Maurício de Nassau da Nova Holanda.
Nassau se aliou à elite açucareira nordestina, fornecendo crédito aos
fazendeiros. Implantou a liberdade religiosa na colônia, onde antes o
catolicismo era a religião oficial. Remodelou Recife e trouxe missões artísticas
e científicas, as primeiras vindas ao Brasil.
. A saída dos holandeses: Mesmo com o fim da
União Ibérica, os holandeses se recusam a sair do Nordeste e dá-se a guerra
entre Portugal e Holanda. Como a Holanda estava em uma difícil guerra com a
Inglaterra, abandona a colônia da Nova Holanda, obrigando Portugal a pagar uma
indenização para tal. Depois, os holandeses irão estabelecer poderosas produções
de cana-de-açúcar nas Antilhas holandesas, desbancando a produção
brasileira.
. A Restauração: Em 1640, a Espanha já é uma
potência declinante. Enfrenta neste ano revoltas na
Catalunha e Andaluzia, ambas apoiadas pela
França. Assim, ficou facilitada a independência de Portugal.
. O acirramento do colonialismo: O Estado
português, porém, ressurge em péssimo estado financeiro, tendo perdido várias
colônias na África e na Ásia, com o problema holandês no Nordeste por resolver e
ainda com uma forte decadência do preço do açúcar no mercado internacional
devido ao surgimento de novas áreas de produção de cana na América. O rei
decide, então, por um endurecimento da situação colonial para que conseguisse
mais fundos para estabilizar o Estado. Cria, então, a Companhia de Comércio do
Brasil (1647-
1720) e a Cia de Comércio do Maranhão (1682-5)
que deveria monopolizar todo o comércio com o Brasil, segundo os moldes ingleses
e holandeses. Em 1640 é criado também o Conselho Ultramarino, órgão português
responsável pelas colônias. Criaram-se ainda os juizes de fora, que seriam os
presidentes das câmaras municipais e seriam nomeados pelo Rei, num ato de forte
centralização.
3. As revoltas coloniais:
. A revolta de Beckman (1684): Essa foi uma
revolta contra a centralização e endurecimento do colonialismo a partir da
Restauração. Reação à criação da Companhia de Comércio do Maranhão, que detinha
o monopólio do comércio na capitania. Os revoltosos propunham o fim do monopólio
e atacaram a companhia e os jesuítas, que proibiam a escravização dos índios. A
revolta foi massacrada.
. O quilombo dos Palmares (1630-1694): Revolta
totalmente diferente da de Beckman. Foi a mais importante resistência escrava
existente na colônia. Os escravos resistiam de várias formas, mas principalmente
com fugas e formação de quilombos – comunidades de escravos fugidos. Palmares
foi o maior quilombo existente na colônia, tamanho esse devido à desorganização
das plantagens nordestinas com a guerra contra os holandeses. Após várias
expedições, o bandeirante Domingos Velho destrói o quilombo.
. A guerra dos mascates (1709-11): Esse foi um
conflito local, portanto, diferente dos outros dois, foi o conflito entre os
senhores de Olinda e Recife. Os comerciantes de Recife não queriam mais se
sujeitar à Câmara de Olinda, o que leva ao conflito. Em 1709 é criada a Câmara
de Recife e em 1711 as cidades são equiparadas, ponde-se um fim ao
conflito.
História do Brasil - 5 - A economia
mineradora
1. Introdução:
No final do século XVII, seriam descobertas na
colônia portuguesa as maiores reservas de ouro já exploradas no Ocidente desde a
época do Império Romano. Isso vai trazer uma grande população européia e cativa
africana ao Brasil e vai gerar também um grande dinamismo econômico na colônia.
Logo, a América portuguesa se tornará, enfim, a mais importante colônia
portuguesa.
2. A economia mineradora:
. O bandeirismo: Eram quatro os fatores de
interiorização da colonização portuguesa: a pecuária, a busca por especiarias e
drogas do sertão, a busca por metais e o apresamento de índios. Desses todos, o
mais importante é o último, que era a área de atuação por excelência dos
bandeirantes – também chamados de paulistas. Eles iam ao interior aprisionar
índios para vendê-los como escravos para fazendeiros.
. A descoberta e a imigração: A primeira
descoberta de ouro em Minas Gerais se deu em 1693 e a exploração de fato começou
em 1698. Os diamantes foram descobertos em 1728. Essas descobertas levam a
uma grande imigração para a região, em um fluxo
total de 600 mil portugueses para a região durante 60 anos.
. A guerra dos emboabas (1707-9): Os paulistas
descobriram as minas de ouro e foram seus primeiros exploradores, porém logo
chegaram vários portugueses que iam explorando o ouro e, principalmente, o
lucrativo abastecimento da região. Dá-se, então, uma briga entre os pioneiros
bandeirantes e os emboabas – os portugueses que chegaram depois, como eram
chamados pelos paulistas. Os emboabas foram vitoriosos.
. Os caminhos: O primeiro caminho que levava à
região mineira partia de São Paulo e a viagem demorava 60 dias. Logo, foram
construídos o Caminho Real e o Caminho Novo, este – de 1701 – era o mais
importante. Partia do Rio de Janeiro e a viagem demorava ‘apenas’ 12 dias.
. O abastecimento: O Rio assume, assim, uma
posição privilegiada com a mineração, já que é porta de entrada de escravos,
imigrantes, artigos metropolitanos para as minas e porta de saída de ouro e
diamantes. Ainda, será a principal região abastecedora de alimentos para Minas.
Abastecimento esse que foi sempre muito problemático, já que os principais
esforços dos mineradores eram pela exploração de ouro. O preço dos alimentos e
artigos básicos era altíssimo e houve sérias crises de fome. A mineração leva a
um dinamismo da economia colonial, com formação de um mercado interno, com certa
especialização e integração.
. A sociedade mineira: A sociedade mineira tem
certas inovações em relação à sociedade açucareira. É mais urbanizada, tem mais
artistas, literatos e cultura em geral. Há ainda uma diversidade maior na
escravidão, apesar de esta continuar predominante. Há o surgimento da figura do
escravo de ganho e outras formas de escravidão e há ainda um número maior de
alforrias – liberdade do escravo dada ou comprada.
. Fiscalismo: A Coroa portuguesa cria um grande
aparato burocrático para retirar o máximo de impostos da mineração e evitar o
contrabando que, com toda a fiscalização, foi grande no período. 20% de todo o
ouro extraído deveria ser doado à Coroa, é o quinto. A exploração de diamantes
tinha uma forma específica a partir de 1740. Desse período até 1771, foram
explorados sob contrato régio e em seguida sob monopólio real.
. Revolta de Vila Rica (1721): Várias são as
formas feitas pela Coroa para arrecadar o quinto: a capitação e as Casas de
Fundição são dois exemplos. No primeiro, havendo ou não a extração do ouro, os
exploradores de ouro tinham que entregar uma cota específica aos fiscais. No
segundo, instituído em 1725, todo o ouro deveria ser fundido nas casas de
fundição, aonde se retiraria o quinto. As casas de fundição foram adotadas
devido à revolta de Vila Rica, feita pelos mineradores contra o sistema de
capitação.
. A decadência da mineração e o ‘renascimento
agrícola’: A produção de ouro é ascendente até 1750, passando a ser decadente a
partir de então, levando a Coroa a tomar medidas extremas para manter a alta
arrecadação. Com a decadência da mineração, a capitania de Minas se torna uma
forte região agropecuária e dá-se o que é chamado de ‘renascimento agrícola’,
onde os principais produtos de exportação do Brasil voltam a ser provindos da
agricultura. Na verdade, a colônia não deixou de ser agrícola em função da
mineração. De qualquer forma, a partir de fins do século XVIII passa a ser
exportada uma gama mais variada de produtos: o anil, os produtos da pecuária, o
arroz, o algodão, além do tabaco e da cana e seus derivados.
. A reformulação das fronteiras: Portugal havia
ocupado a Amazônia com a exploração das drogas do sertão e o atual Centro-Oeste
brasileiro com a mineração. Em 1680, Portugal funda a colônia de Sacramento –
região do atual Uruguai – em território espanhol, região de escoamento da prata.
Em 1750, Portugal e Espanha assinam o Tratado de Madri, onde Sacramento fica com
a Espanha e a Amazônia e o ‘Centro-Oeste’ com Portugal, dando as linhas
aproximadas do atual território brasileiro.
História do Brasil - 6 - As reformas
pombalinas e as conjurações coloniais
1. Introdução:
A partir de 1750, a colonização portuguesa na
América entra em decadência. As arrecadações com a mineração baixam
seguidamente, levando a monarquia a adotar duríssimas medidas. Medidas que não
ficam sem repostas. Passa-se a forjar a independência em relação a
Portugal.
2. A época pombalina:
. O absolutismo ilustrado: Também chamado de
despotismo esclarecido, caracteriza-se por ser o absolutismo não modificado em
sua essência, mas com uma aura das idéias e ideais da Ilustração – também
chamada de Iluminismo. O absolutismo e o mercantilismo, no entanto, são
fortemente reafirmados. Prevaleceu na periferia da Europa na segunda metade do
século XVIII em países como Rússia, Áustria, Prússia, Espanha e Portugal que,
com essas medidas, tentavam se aproximar das potências européias dominantes,
Inglaterra e França.
. As reformas pombalinas: No governo do rei
José I (1750-1777), era preponderante no Estado português a figura do marquês de
Pombal. Esse ministro se enquadra dentro do modelo de absolutismo ilustrado. Ele
fez uma série de reformas em Portugal e na colônia, tentando tirar o atraso de
Portugal na Europa. Foram reformas claramente centralizadoras e autoritárias,
que beneficiavam os grandes comerciantes portugueses.
. Derrama (1751): Com o primeiro sinal de
decadência na arrecadação do quinto na região das minas, Pombal institui a
derrama. Segundo esse mecanismo, a arrecadação anual do quinto nas minas deveria
ser de
100 arrobas de ouro – cada arroba equivale a
algo como 15kg e 100 arrobas a mais ou menos 1,5 tonelada. Caso não se chegasse
a esse valor, o resto deveria ser cobrado de toda a população das Gerais.
. Expulsão dos jesuítas da colônia (1759): A
ordem dos jesuítas foi expulsa para pôr fim à poderosa influência e presença no
contrabando por parte dessa ordem. A Coroa tomava, também, todas as terras
deles.
. Companhias de Comércio: As companhias
monopolistas de comércio foram recriadas. Assim, criaram- se as Companhia Geral
do Grão-Pará e Maranhão em 1755 e a Companhia Geral do comércio de Pernambuco e
da Paraíba. Essas companhias aumentavam bastante os lucros dos comerciantes
portugueses.
. Capital no Rio de Janeiro (1763): A capital
da colônia passa de Salvador para o Rio de Janeiro, já que esta cidade era o
centro que escoava a produção de Minas Gerais, além de controlar o tráfico de
escravos.
. Medidas administrativas: Outras medidas
foram: extinção das capitanias hereditárias, reunificação administrativa – a
colônia era então dividida administrativamente em duas – e monopólio real dos
diamantes.
. O reinado de d. Maria I: No reinado da
sucessora de d. José I, prevaleceu o caráter absolutista ilustrado da política
pombalina. Assim, em 1785, as manufaturas foram proibidas na colônia.
3. As conjurações coloniais:
. Caráter geral das conjurações: As conjurações
de fins do século XVIII não são mais como as antigas revoltas coloniais. Agora,
contesta-se a colonização e planeja-se uma independência de Portugal.
. Conjuração mineira (1789): Os moradores da
região das minas foram duramente atingidos pela derrama e pela proibição das
manufaturas. Com as manufaturas proibidas, os mineiros teriam que importar
tecidos de Portugal a um preço muito maior que o custo de produção em uma
manufatura local. Parte da elite local, baseados nos princípios da Ilustração e
influenciados pela Independência dos Estados Unidos, planejam a formação de uma
república na região das minas. Não havia muita coesão de idéias, principalmente
no que diz respeito à escravidão, mas previam-se manufaturas livres, libertação
dos filhos dos escravos, capital em São João Del-Rei, Universidade em Vila Rica,
perdão de dívidas, república eletiva, milícia de cidadãos, parlamentos locais e
um central. A trama foi delatada por um de seus membros que era endividado da
Coroa e todos foram desterrados, com exceção de Tiradentes, o único pobre do
grupo, que foi morto.
. Conjuração carioca (1794): Trata-se na
verdade de uma sociedade literária, ligada a uma loja maçônica, que discutia a
melhor forma de governo para o Brasil e uma possível independência. Não chegou a
bolar plano de independência. Também foi reprimida.
. Conjuração baiana (1798): Também chamada de
conjuração dos alfaiates, foi influenciada fortemente pela Revolução Francesa.
Foi uma revolta muito mais popular do que a mineira, participaram dela soldados,
artesãos, negros forros e até escravos. Parte da elite também apoiou a revolta.
Tinha princípios mais democráticos que a mineira e previa-se inclusive o fim da
escravidão. Dos 34 conjurados, alguns foram presos, outros desterrados e três
foram enforcados. Os membros da elite nada sofreram na repressão à
revolta.
História do Brasil - 7 - A época
joanina
1. Introdução:
A partir de 1808 não se pode mais
falar que o Brasil é uma colônia. Com a chegada da família real e da Corte
portuguesa à cidade do Rio de Janeiro neste ano, o Centro-Sul da América
portuguesa passam a cumprir um papel de metrópole ante o resto do Império
português. Pode-se dizer, então, que 1808 – quando acaba o colonialismo – é uma
ruptura maior do que 1822 – ano da independência do Brasil em relação a
Portugal.
2. A época do d. João VI no Brasil
(1808-21):
. A saída da família real portuguesa da Europa:
Em meio às guerras napoleônicas na Europa, em 1806 os franceses proíbem qualquer
país da Europa continental de comerciar com a Inglaterra. Portugal não aceita
essa imposição e sofre a invasão das tropas de Napoleão. A família real toma a
decisão de fugir para o Brasil
– sua mais rica colônia –, plano este já
tramado desde fins do século XVIII. Junto com a família real, vem toda a corte
portuguesa, em um total de aproximadamente 15 mil pessoas em 20 navios. A
Inglaterra apóia essa medida e escolta a frota portuguesa, permanecendo como a
maior aliada de Portugal.
. O fim do estatuto colonial: As primeiras
medidas do Rei português no Brasil acabam com o caráter de colônia ao Brasil.
Primeiramente, d. João abre os portos brasileiros para todas as ‘nações amigas’,
o que representava naquele momento basicamente a Inglaterra e, em muito menor
escala, os EUA. Neste mesmo ano – 1808 – a Coroa libera a criação de manufaturas
no Brasil. Mais ainda, o Rei começará a formular um amplo aparato de Estado na
cidade do Rio de Janeiro, o que dá a esta o caráter de metrópole.
. A hegemonia inglesa: Na época joanina, devido
em parte às condições de fuga da corte para o Brasil, há uma grande presença
inglesa na política e, principalmente, na economia brasileira. Isso vai ficar
patente quando, em 1810, d. João concede taxas preferenciais de importação aos
produtos ingleses no Brasil, pagando estes menos taxas que produtos de outras
potências e até do que os produtos portugueses. Há a presença de vários
comerciantes ingleses nos portos brasileiros e seus hábitos e costumes também
são adotados.
. A fundação de um aparato de Estado: D. João
tem que recriar o Estado português no Brasil, agora não mais com a presença da
nobreza e do clero portugueses apenas, mas também com comerciantes e fazendeiros
brasileiros. Algumas das principais criações são: os ministérios e órgãos reais
são recriados no Brasil e também órgãos militares, como a fábrica de pólvora; o
Banco do Brasil, banco criado para financiar os gastos do Estado; um jardim
botânico, laboratório para estudo e aclimatação de novas plantas; a Imprensa
Régia, que dá origem aos primeiros jornais no Brasil; uma grande biblioteca
pública, com a vinda de livros de Portugal, que dará origem à atual Biblioteca
Nacional; a Academia de Belas Artes, onde lecionaram artistas estrangeiros que
vieram nas expedições artísticas e científicas.
. A política externa joanina: Em represália à
invasão francesa a Portugal em 1807, d. João VI toma a Guiana Francesa em 1809.
Com a paz na Europa em 1815, a região é devolvida à França. Neste mesmo ano, o
Brasil é elevado à categoria de Reino para que D. João pudesse negociar no
Congresso de Viena como Rei. Mesmo com a paz na Europa, ele se decide por ficar
no Brasil. Diante da independência das colônias latino- americanas e do desejo
de Buenos Aires de criar uma grande República do Prata que uniria Argentina,
Uruguai e Paraguai, D. João VI toma o Uruguai em 1816, que passa a ser a
província da Cisplatina.
. A revolução pernambucana (1817): Se para o
Centro-Sul do Brasil, a chegada da Corte tinha sido altamente positiva devido à
ativação da economia da região e do fortalecimento do comércio de abastecimento
para a cidade do Rio, no Norte e no Nordeste a situação pouco mudou. Pode-se
dizer, inclusive, que estas regiões continuaram a ser colônia, mudando apenas a
metrópole de Lisboa para o Rio de Janeiro. Assim, uma revolta anticolonial,
anti-lusitana e separatista estoura em Recife, feita por senhores de engenho e
população pobre da cidade. Os revoltosos destituem o governador, tomam o poder e
declaram a República. A revolta se alastra para a Paraíba, Rio Grande do Norte e
Alagoas. Um destacamento de Salvador reprime a revolta, fuzilando seus
líderes.
. Revolução Liberal do Porto (1820):
Desde o fim das guerras na Europa em 1815, um emissário inglês governava
Portugal. Em 1820, explode uma revolução na cidade do Porto que logo se
alastraria por todo Portugal. Os revolucionários expulsam o governador inglês e
convocam uma Assembléia Constituinte – as Cortes –, afirmando que a Constituição
deveria ser jurada por D. João e este deveria voltar para Portugal. Adere-se à
revolução no Brasil, primeiramente em áreas periféricas, como Pará e Bahia, que
derrubam seus governadores e declaram-se fiéis às Cortes e não ao Rio de
Janeiro. Depois, na própria cidade do Rio de Janeiro há adesão. Tem início o
processo de emancipação política do Brasil.
História do Brasil - 8 - A Independência e o
Primeiro Reinado
1. Introdução:
A independência brasileira foi uma revolta
contra a recolonização que as Cortes portuguesas propunham e representam uma
continuidade com o período joanino. O Império brasileiro surge em crise com
guerras, revoltas, movimentos separatistas e crise econômica. A estabilidade só
virá na década de 1850.
2. O encaminhamento da ruptura:
. A tentativa recolonizadora: As Cortes foram
convocadas tendo uma parcela de representantes brasileiros. No entanto, o
projeto da maioria portuguesa era que o Brasil voltasse a ser colônia. Esse é o
principal motivo da independência. Os fazendeiros, comerciantes brasileiros e os
ingleses não desejavam isto.
. Portugueses, brasileiros e exaltados: Logo,
se formaram três ‘partidos’ no Brasil. Os portugueses, totalmente a favor da
recolonização; os brasileiros, a princípio contra a ruptura, defendiam uma
monarquia dual, depois seriam a favor da independência; e os exaltados ou
liberais radicais, a favor da emancipação e da criação de uma monarquia
constitucional ou república mais democrática do que o projeto dos
brasileiros.
. A independência forjada: D. João VI é
obrigado pelas Cortes a voltar a Lisboa em 1821. Antes disso, pega todos os
metais depositados no Banco do Brasil e deixa no Rio seu filho d. Pedro, que
deveria ser o governador-geral do Brasil e em caso de independência, deveria ser
o líder dela, evitando-se radicalismos. Assim, diante da rigidez das Cortes, d.
Pedro lidera junto aos brasileiros e exaltados a emancipação em 1822.
3. O primeiro reinado:
. Guerra de independência: Logo, estouram na
Bahia e no Pará focos de resistência de tropas portuguesas. D. Pedro reprime
essas resistências com o auxílio de mercenários estrangeiros.
. A Constituição da mandioca: A Constituinte
brasileira foi convocada em 1822 antes mesmo da independência. O voto era
censitário baseado no preço da mandioca, daí o nome da Constituição. Esta nunca
chegou a ficar pronta. Em 1823 foi apresentado um anteprojeto dela, tratava-se
de uma constituição de monarquia constitucional e parlamentarista, o que foi
rejeitado pelo Imperador Pedro que fechou a
Assembléia em 1823, desejando uma constituição
que lhe desse mais poderes.
. A Constituição outorgada (1824): D. Pedro se
alia aos portugueses e outorga uma constituição. Esta era muito similar ao
projeto apresentado, porém tinha uma novidade. Além dos três poderes do Estado,
havia um quarto poder, o moderador, que prevaleceria sobre os outros. Este poder
era o poder do Imperador, que ainda nomearia os membros do Supremo Tribunal,
seria o chefe do Executivo e nomearia presidentes de província. A Constituição
deveria ainda ser referendada nas câmaras municipais ao longo do Brasil.
. Padroado: Segundo a Constituição, a religião
oficial do país é a católica, os padres eram funcionários públicos pagos pelo
Estado e o Rei mediava relações do clero nacional com o Vaticano. Era o
padroado.
. A repressão: Explodiram revoltas contra a
nova constituição. D. Pedro fez uma forte repressão contra estes – constituídos
principalmente por exaltados –, fechando jornais, prendendo e exilando
ativistas.
. A Confederação do Equador (1824): Uma certa
continuação da Revolução Pernambucana de 1817, foi um movimento separatista no
Nordeste que obteve êxito provisório. Inicia-se em Recife, onde a Câmara
rejeitou a Constituição de 1824. Declara-se uma confederação unindo Pernambuco,
Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. Com contração de empréstimos estrangeiros,
d. Pedro suprime a revolta, matando seus líderes.
. O reconhecimento da independência: Mesmo com
a declaração de independência, as potências européias – inclusive a Inglaterra –
não haviam aceitado a mesma, visto que Portugal não tinha aceitado a
emancipação. Os EUA são o primeiro país a reconhecer a independência brasileira,
em 1824. Após longas negociações, Portugal aceita a independência em 1825 – e,
em seguida, toda a Europa –, mas com uma série de cláusulas. O Brasil pagaria
uma dívida portuguesa de 2 milhões de libras para a Inglaterra; as taxas de
importação continuariam compulsoriamente em 15%; e o Brasil não anexaria Angola,
como pretendido.
. A guerra da Cisplatina (1825-8): Foi a guerra
de independência do Uruguai com o Brasil. Eles tinham o apoio da Argentina e da
Inglaterra e o Brasil, com crises econômicas e revoltas regionais, perde a
guerra.
. A queda de d. Pedro I (1831): Com crises nas
exportações, fraca arrecadação do Estado, dívidas, revoltas e guerras, o
primeiro reinado foi um período de grande crise para o país. Como o
autoritarismo de d. Pedro, com o fracasso de seu governo e o crescimento das
oposições, o imperador é obrigado a abdicar do trono em 1831. Ele abdica para
assumir o trono português e deixa no Brasil seu filho Pedro de apenas 5 anos. A
Assembléia assume o poder no que seria o período mais turbulento da história
imperial, a Regência.
História do Brasil - 9 - O período
regencial
1. Introdução:
Em toda a América Latina, os recém-fundados
Estados independentes se encontravam em enormes crises políticas e econômicas e
em guerras civis. O Brasil não foi exceção, sem fundamentos econômicos sólidos e
sem uma organização política estável, encarou uma série de revoltas separatistas
na década de 1830.
2. A política na Regência:
. Grupos políticos: Como Pedro II era ainda
menor, os parlamentares decidem por uma Regência trina, que durará até 1834. Há
no momento três ‘partidos’: restauradores, a favor da volta de Pedro I;
moderados, a favor do federalismo e do fim do Senado vitalício; exaltados, que
defendiam, além das reformas dos moderados, reformas democratizantes. Os ânimos
políticos se acirram, inclusive com confrontos nas ruas.
. Guarda nacional (1831): É criada pela
Regência uma guarda constituída pelos cidadãos – só quem tinha liberdade e renda
alta – para evitar distúrbios. Vai ser um importante mecanismo de centralização
do poder.
. Avanço liberal (1831-7): Moderados e
exaltados se aliam e dão o tom do Avanço liberal. O principal legado deles foi o
Ato Adicional de 1834, apesar de este ter sido feito em aliança com os
restauradores.
. O ato adicional (1834): Esse ato transformava
a Regência trina em una, mas mais do que isso, transformava os conselhos de
província – meros órgãos consultivos – em Assembléias provinciais, que tinham
uma boa autonomia e amplos poderes. O senado permaneceu vitalício, uma concessão
aos restauradores.
. Regresso conservador: O Ato Adicional deu
margem para que estourassem uma série de rebeliões no período, o que faz com que
parte dos moderados se alie aos restauradores contra o Ato Adicional,
formando
o grupo dos regressistas. Os restauradores não
exigiam mais a volta de d. Pedro I, visto que este havia
morrido. Um regressista é eleito em 1837 dando
início ao Regresso conservador, onde é desfeito o Ato
Adicional e inicia-se uma ampla repressão às
revoltas regenciais.
3. As rebeliões regenciais:
. Caráter geral das revoltas: Tratam-se de
grandes rebeliões contra a centralização e o absolutismo, contra a carestia,
muitas vezes anti-lusitanas, a favor das liberdades individuais e com a questão
social presente.
. A primeira leva das rebeliões: Antes do Ato
Adicional, houve algumas rebeliões pelo país, nenhuma de grande vulto como as da
segunda leva, especificadas a seguir.
. Cabanagem (1833-6): A maior de todas as
rebeliões regenciais, ocorrida no Pará e estendida ao Amazonas. A revolta se
inicia com a rejeição de um presidente de província indicado. Os cabanos –
membros da classe popular na província, moradores de cabanas – tomam o poder da
província. Como não tinham um programa claro de poder, entram em conflito
interno. Uma tropa é enviada do Rio e os cabanos fogem para o interior, voltando
depois a Belém e proclamando província desligada do Império. Um forte exército é
mandado à região e finda a revolta com 30 mil mortos.
. Farroupilha (1835-45): Também chamada de
Guerra dos Farrapos, foi a mais eficiente revolta regencial, tendo em vista seus
objetivos. Ao contrário das outras, foi completamente elitista, feita por
proprietários estancieiros e charqueadores do Rio Grande do Sul. Estes
reclamavam das nomeações ao presidente da província, da alta taxa de importação
do sal, da baixa taxa de importação do charque e das altas taxas cobradas nas
passagens. A Assembléia provincial destitui o presidente do Rio Grande,
empossando Bento Gonçalves e declarando a república Piratini em 1836. Gonçalves
é preso, mas a revolta continua. Em 1839, eles tomam Santa Catarina e
declaram-na república independente Juliana. Caxias suprime a revolta em 1845,
fazendo ampla anistia e concessões aos revoltosos, como a nomeação dos
farroupilhas ao Exército.
. Levante Malê (1835): Uma revolta plenamente
diferente das outras, foi uma revolta escrava. Escravos de origem muçulmana
forjam um plano de tomar Salvador, como forros denunciam a revolta, ela é
dominada em apenas três horas, mas a revolta coloca a população livre da cidade
em permanente medo.
. Sabinada (1837-8): A única rebelião urbana,
junto com a Malê. Levante da classe média liberal de Salvador contra o governo
central. Estes tomam o poder provincial e declararam a independência da Bahia. A
elite da cidade foge da cidade e organiza a reação. Com o apoio do Rio de
Janeiro, retomam a cidade.
. Balaiada (1838-41): Inicia-se com um conflito
entre liberais – chamados bem-te-vis na província – e conservadores – chamados
cabanos – na província do Maranhão, embora a revolta tenha se espalhado para o
Piauí. Os balaios – membros da classe popular do interior da província – iniciam
uma revolta apoiada pelos liberais maranhenses. Caxias é nomeado presidente da
província e suprime a revolta dos balaios.
História do Brasil - 10 - A afirmação do
Império
1. Introdução:
No final do período imperial, surge um pacto
político que vai dar origem à base política do segundo Império. É a união entre
os antigos restauradores e alguns moderadores. Grande parte deles é constituída
de fazendeiros de café ou está ligada a estes. São as exportações de café e a
força política dos cafeicultores que vai estabilizar econômica e politicamente o
Império.
2. A consolidação imperial:
. A Maioridade: Os moderados – agora chamados
de liberais – viram-se alijados do poder com o Regresso conservador. Eles
tramam, então, um golpe para empossar d. Pedro II mesmo este tendo apenas 15
anos. Eles dão o golpe, conseguindo que todo o primeiro ministério do Segundo
Reinado seja constituído por liberais e o país volta a ter imperador, voltando
também a ter poder moderador.
. Os partidos políticos do Império: Os dois
grupos políticos do final da Regência se organizam em partidos de fato. O
partido liberal, mais favorável às autonomias regionais e as liberdades e o
partido conservador, mais centralizador, sendo mais ligado ao Imperador ao longo
do Segundo Reinado e mais poderoso. Os dois partidos, no entanto, estão
assentados essencialmente em grupos sociais similares, ambos são constituídos em
sua maioria por proprietários de escravos e de terras. Ambos os partidos são
contra o fim da escravidão e contra reformas realmente democratizantes.
. A dinâmica política imperial: Em 1840, logo
após o golpe da maioridade e devido ao acirramento das brigas políticas, ocorrem
eleições extremamente violentas e fraudulentas, as eleições do cacete. No
entanto, corrupção e violência serão marcas da política em todas as eleições do
Segundo Reinado. Liberais e conservadores iriam se alternar nos ministérios ao
longo do Segundo Reinado.
. O grupo de sustentação do Império, os
saquaremas: O partido conservador, ao longo de todo o Império, é mais poderoso
do que o partido liberal. Dentro do grupo do partido conservador, há um grupo
proeminente que, na verdade, dá o tom da política imperial. São os saquaremas,
os conservadores do estado do Rio de Janeiro, ligados à cafeicultura
escravista.
. Por trás da estabilidade, o café: Mais
importante do que as disputas políticas, para se entender a estabilização
política do Império, é preciso entender o que acontece na economia. Desde 1830,
o café é o principal produto da pauto de exportações do Brasil, superando o
açúcar. E a partir de 1840 e 1850, as exportações aumentarão vertiginosamente,
possibilitando ampla arrecadação e amplos superávits na balança comercial. A
produção de café se concentrava no Sudeste, mais especificadamente no Vale do
Paraíba fluminense – esse o mais importante neste momento –, paulista e mineiro.
A produção era feita em grandes fazendas usando basicamente mão-de-obra
escrava.
. Tarifas Alves Branco (1844): Neste ano, o
Estado imperial modificou as tarifas de importação de produtos estrangeiros com
o objetivo de aumentar a arrecadação do Império – já que naquela época, a
principal fonte de arrecadação era a alfândega. As tarifas que eram de 15%
passariam para 30% para produtos sem similares nacionais e 60% para os com
similares nacionais, os tecidos, no entanto, pagavam apenas 20% de entrada. Além
do aumento na arrecadação, a medida era uma reação à constante ameaça inglesa ao
tráfico de escravos feito para o Brasil e também pretendia defender a indústria
nacional. De fato, as tarifas ajudaram no surgimento de uma certa indústria
nacional. Outras medidas imperiais, como a isenção na importação de máquinas e o
crédito para a indústria ajudaram as fábricas nascentes. Isso tudo não durou
muito, em 1860 houve a reversão das tarifas, o que levou à quebradeira de
diversas empresas industriais.
3. A última grande revolta regional:
. A Praieira (1848-50): A Praieira pode ser
considerada uma revolta regencial tardia, assim como outras pequenas revoltas
provinciais menores que existiram ao longo da década de 1840. Tem caráter
autonomista e anti-lusitano. Ocorrida em Pernambuco, é uma reação à
centralização monárquica e ao jogo político entre liberais e conservadores. Um
grupo do partido liberal da província não aceita a alternância de poder entre
conservadores e liberais e forma o partido da praia, composto por uma elite
emergente da província. Os praieiros chegam ao poder na província e fazem o
mesmo tipo de governo que liberais e conservadores, com nomeação de parentes
para o funcionalismo público e licitações fraudadas. Como os conservadores
locais – guabirus – impedem que os praieiros sejam eleitos senadores, os
praieiros entram em confronto armado com os guabirus. O governo imperial
interfere e suprime a revolta.
História do Brasil - 11 - O auge do
Império
1. Introdução:
Em 1850, a Praieira havia sido controlada, as
exportações de café batiam recorde, a indústria surgia e a arrecadação aumentava
crescentemente. Porém, neste mesmo ano abolia-se finalmente o tráfico de
escravos. Era a semente da ruína do Império, já que a base de sustentação deste
eram os proprietários escravistas.
2. Características econômicas do auge do
Império:
. Estrutura econômica brasileira: Durante a
época colonial, a economia brasileira, além de escravista, era eminentemente
voltada para a exportação de bens valorizados no mercado europeu. Essas
características continuaram essenciais na economia imperial, com as exportações
de café – do qual o Brasil se tornou o maior produtor e exportador do mundo no
século XIX – e de outros produtos, além do trabalho escravo.
. O rush da borracha: Na segunda metade do
século XIX e primeiras décadas do século XX, a borracha produzida na Amazônia se
torna um importante produto de exportação. Dominada por empresas estrangeiras, a
produção da borracha chegou a ser o segundo item de exportações no início do
século XX, com 28% do valor das exportações, sendo o Brasil o maior produtor
mundial no período, com 50% do mercado mundial.
. O fim do tráfico (1850): O Brasil se
comprometeu várias vezes antes de 1850 a acabar com o tráfico de escravos, mas o
Estado nunca se empenhou. A Inglaterra, interessada no alargamento do mercado
brasileiro com o fim da escravidão, pressionava insistentemente o Brasil para
pôr fim ao tráfico. Em 1845, o Parlamento britânico cria a lei Bill Alberdeen,
que permitia aos navios de guerra britânicos a apreensão de navios negreiros
brasileiros. Em 1850, aprova-se a apreensão de navios negreiros inclusive em
águas territoriais brasileiras, gerando uma série de incidentes, com troca de
tiros em portos, furor nacionalista e pedidos de guerra. 400 navios negreiros
brasileiros foram capturados pelos ingleses segundo essa lei. Fruto dessa
pressão britânica, em 1850, o Congresso brasileiro aprova a lei Eusébio de
Queirós, que abole o tráfico de escravos.
. As ferrovias e outras novidades tecnológicas:
Diversos empresários e industriais – dentre eles o mais rico e mais conhecido, o
visconde de Mauá – interessaram-se pelos capitais dos traficantes de escravos,
os homens mais ricos do Brasil. Mauá chega a criar um banco de investimento para
atrair esses capitais. De fato, o fim do tráfico fortaleceu mais ainda os
investimentos em indústrias e outros empreendimentos que mercaram o auge do
Império. São bancos, companhias de navegação a vapor, seguradoras, telégrafos e,
principalmente, as ferrovias. A primeira ferrovia foi feita em 1854 e a estrada
de ferro Pedro II começou a ser feita em 1855. Muitos desses empreendimentos
tinham a presença preponderante de capitais ingleses.
. A lei de Terras (1850): Logo após a abolição
do tráfico, foi feita a lei de terras. Essa impedia o acesso de pessoas pobres
às terras ao determinar que todas terras devolutas – as terras públicas – seriam
adquiridas apenas por meio de compra. Ou melhor, não haveria distribuição de
terras públicas.
3. Guerra do Paraguai (1864-1870):
. O Paraguai pré-guerra: Ao contrário do desejo
dos grandes comerciantes de Buenos Aires, o vice- reinado do Prata se dividiu em
três países: Argentina, Paraguai e Uruguai. O Paraguai vive, desde sua
independência em 1811, seguidas ditaduras. Prevalecia um sistema de pequenas e
médias propriedades no Paraguai, onde o Estado monopolizava o comércio exterior
– baseado em exportações de erva-mate e couro – e tinha controle sobre amplas
partes da economia. Para escoar sua produção, o Paraguai tinha que pagar uma
taxa à Argentina. Tratava-se de uma potência emergente, que iniciara um processo
de industrialização, mandava jovens para estudar no exterior e montava um
exército com planos expansionistas sobre o Prata.
. Causas da guerra: O Brasil já intervirá na
política interna do Uruguai e Argentina com invasões militares em 1851-2,
complicando a política na região. Outra intervenção brasileira no Uruguai em
1864 colocou em perigo a saída do mar para a produção paraguaia. Querendo
controlar a saída do rio da Prata, o Paraguai invade o Brasil e a Argentina,
objetivando chegar ao Uruguai.
. A guerra: Forma-se contra os paraguaios uma
Tríplice Aliança entre Brasil, Argentina e Uruguai que conta com o apoio inglês.
O Brasil passa a lutar sozinho em 1866 e para vencer utiliza o exército, a
guarda nacional, os voluntários da pátria, os recrutados e escravos com a
promessa da alforria com o fim da guerra.
. Consequências da guerra: O ditador Paraguaio
Solano Lopez não se rende, o que leva a uma guerra longa e extremamente ruinosa
para os paraguaios. 95% da população masculina adulta do país morre na guerra e
40% do território paraguaio é anexado por Argentina e Brasil. Morrem 300 mil na
guerra. No Brasil, a guerra tinha custado muito caro, aumentado o poder do
exército e levantado a questão da escravidão.
História do Brasil - 12 - Decadência do
Império
1. Introdução:
Existem vários pequenos fatores que explicam a
queda do Império, porém há um fator fundamental: o fim da escravidão em 1888. O
Brasil foi o último país do mundo a acabar com esta e continuar havendo
escravidão no país seria insustentável. Com o fim desta, cai o grupo de apoio do
Império, os proprietários.
2. Fatores da decadência imperial:
. Acirramento das disputas políticas: De 1853 a
1868, prevaleceu a conciliação, onde liberais e conservadores se alternavam
pacificamente no poder. Isso termina no meio da guerra do Paraguai levando a um
novo momento de acirramento das disputas políticas e radicalização dos
confrontos.
. O tráfico interno de cativos: Desde 1850 com
o fim do tráfico de escravos atlântico, tem início no país um amplo comércio de
escravos internamente. Existem fluxos: interprovincial, de áreas mais decadentes
como o Nordeste, para áreas mais dinâmicas, claramente o Sudeste;
intraprovincial, de áreas menos dinâmicas para mais dinâmicas em uma mesma
província; e interclasses: de classes inferiores para classes dominantes.
. Abolicionismo: Aumentam as pressões externas
e internas pelo fim da escravidão. No Brasil, surgem diversos grupos
abolicionistas com jornais e atos contra a escravidão. Em São Paulo,
organizam-se os caifases na década de 1880, são homens livres que organizam
fugas escravas. Paralelamente a isso, aumentavam drasticamente as resistências
escravas, com várias fugas, suicídios, assassinatos de senhores e formação de
quilombos.
. As leis paliativas: Com toda essa pressão, o
Congresso aprova em 1871 a Lei do Ventre Livre, que liberta os filhos de
escravos. O Norte e o Nordeste, já com pouquíssimos escravos, votam maciçamente
a favor e o Rio Grande do Sul e Sudeste votam amplamente contra a lei. Em 1885,
aprova-se a Lei dos Sexagenários, que liberta os escravos com mais de 60 anos
que eram pouquíssimos, na verdade.
. A imigração: Começa-se a pensar em braços
alternativos ao braço escravo. Os proprietários paulistas passam a trazer
imigrantes europeus para trabalhar nas lavouras, com o pagamento das viagens
feito pela província de São Paulo. Na década de 1880, as viagens passam a ser
maciças. Os imigrantes vêm e trabalham em condições péssimas, próximas, na
verdade, ao regime escravo.
. O movimento republicano: Em 1870 surge no Rio
de Janeiro o partido republicano, que logo ganha força em outros estados.
Elementos centrais dentro daquele pensamento republicano eram o federalismo e o
positivismo. O republicanismo e o positivismo vão ter grande penetração no
Exército.
. A questão militar: O imperador se indispõe
com uma série de militares simpatizantes à abolição e ao republicanismo que
haviam deixado claro em público essas tendências simpatizantes. Um dos punidos
pelo Império por estas tendências é Deodoro da Fonseca, que era presidente da
província do Rio Grande do Sul e foi destituído do cargo.
. A questão religiosa: Segundo o regime de
padroado, o Império brasileiro pagava os padres como funcionários públicos e
interferia diretamente dentro dos assuntos da Igreja no Brasil. D. Pedro II se
coloca contra a Igreja quando uma bula papal passa a condenar a maçonaria.
Bispos brasileiros, seguindo a ordem do Vaticano, haviam suspendido irmandades
com maçons. D. Pedro II prende estes bispos, dando princípio a uma grande crise
entre a Igreja e o Estado e com o pedido de bispos de separação entre Estado e
Igreja.
. A abolição no Ceará e no Amazonas: Com toda a
pressão interna e externa e com a resistência escrava, a abolição se tornará
inevitável. Primeiramente, províncias que praticamente não tinham mais escravos
abolem unilateralmente a escravidão. É o caso do Ceará e da Amazonas em
1884.
. A abolição: Com um afastamento provisório do
monarca, sua filha Isabel manda um projeto para o Congresso com o fim imediato
da escravidão sem indenizações. É aprovado e tem fim a escravidão no país em
1888. No entanto, a maioria dos escravos brasileiros foi libertada pelas leis
paliativas, ou fugiram, ou compraram sua liberdade entre 1850 e 1888. Com a Lei
Áurea, apenas 500 mil escravos são libertados. Isso desfaz a base política
imperial e vários fazendeiros do Vale do Paraíba viram os ‘republicanos de 14 de
maio’.
. A situação dos libertos: O fim da escravidão
no Brasil foi feito gradualmente entre 1850 e 1888, constituindo a maior
transformação social na história do Brasil. Isso não quer dizer que esses
ex-escravos viraram pequenos proprietários ou trabalhadores assalariados.
Regimes de trabalho opressivos similares à escravidão prevaleceram no campo, o
que fez com que muitos libertos fossem para as cidades. Alguns abolicionistas
defendiam uma reforma agrária complementar à abolição que desse terras aos
libertos. Não foi adiante no Império nem na República pela obstinada defesa da
propriedade pelos parlamentares.
História do Brasil - 13 - O surgimento da
República
1. Introdução:
Não houve nada de revolucionário na
proclamação da República, nem se avançou democraticamente com o advento deste
regime. Isso fica claro no sufrágio que, segundo novos critérios, fazia com que
a República tivesse menos eleitores do que na época imperial.
2. A proclamação e os governos militares:
. A última proposta monarquista: Diante de
várias pressões por mudanças, o Imperador manda ao Congresso um grupo de
reformas que incluíam: ampliação do eleitorado para todos os alfabetizados que
trabalhassem, autonomia dos municípios, liberdade de culto, Senado
não-vitalício, aperfeiçoamento do ensino, nova lei de terras facilitando sua
aquisição e redução dos direitos de exportação. Essas reformas, se aprovadas,
levariam a um regime mais democrático e igualitário do que foi toda a República,
porém foi barrado no Congresso pelos senadores. O Imperador, então, dissolve o
Congresso e antes da nova reunião, O Império cairia.
. Popularidade do Império: Apesar de toda a
crise, o Império estava no auge de sua popularidade, devido à abolição. Um grupo
abolicionista chamado Guarda Negra, liderado por José do Patrocínio, atacava
convenções republicanas e apoiava a sucessão da Princesa Isabel.
. O golpe: Com o Congresso dissolvido, o
general afastado Deodoro da Fonseca lidera o golpe contra o Império, criando um
governo provisório (1889-91) e convoca uma Assembléia Constituinte.
. As primeiras medidas e a nova Constituição
(1891): Logo que a República foi proclamada, Deodoro tomou algumas decisões que
depois foram respaldadas pela nova Constituição: adoção de federalismo,
cidadania aos estrangeiros residente, separação entre Estado e Igreja e
casamento e registro civil.
. Os grupos republicanos: Havia basicamente
dois grandes grupos republicanos. Um era ligado aos interesses dos
cafeicultores, majoritariamente os cafeicultores paulistas, era fortemente
federalista e defendia poucas mudanças sociais. O outro era o grupo militar,
fortemente influenciado pelo positivismo, centralista e defensor algumas
reformas sociais. O segundo grupo dá o golpe, mas o primeiro dá o tom da
República.
. O federalismo: O federalismo era defendido
pelos fazendeiros, em especial os de São Paulo – região onde a cafeicultura mais
se expande, desbancando o Rio. Eles se viam prejudicados com a centralização
monárquica e desejavam mais poderes para as províncias – agora chamados estados
– e, principalmente, que a arrecadação dos estados ficassem nos estados. Isso
vai acontecer na República, onde toda a arrecadação com as exportações ficava
com o governo estadual e a arrecadação com as importações ficava com a
União.
. Os governos militares: O grupo dos militares
e o grupo dos federalistas, representados no Congresso,
logo entram em confronto. Deodoro toma medidas
autoritárias, tenta dissolver o Congresso, mas é obrigado a renunciar. Seu vice,
eleito indiretamente, Floriano Peixoto (1891-4) deveria convocar novas eleições,
o que não fez, levando a diversas revoltas pelo país.
. Revoltas: Primeiramente, há o Manifesto dos
trezes generais em 1892 pedindo eleições diretas para presidente. Floriano
reforma esses generais. No ano seguinte, pelo mesmo motivo, há a Revolta da
Armada no Rio de Janeiro e a Revolução Federalista no Sul do país, ambas
massacradas duramente.
3. O impulso à industrialização:
. A industrialização: Desde a década de 1880,
inicia-se no país – especialmente nas cidades do Rio e São Paulo – um processo
sólido de industrialização, em função da gradual adoção do trabalho livre e da
importação de imigrantes. Essas indústrias receberão capital acumulado no
comércio e com a cafeicultura e elas se restringem aos bens de consumo
não-duráveis: tecidos, bebidas, alimentos etc. Não há ainda indústrias de bens
de consumo duráveis e indústrias de bens de capital relevantes. A produção
industrial do Distrito Federal é mais importante do que a de São Paulo
inicialmente, isso vai se inverter em 1920, quando a indústria paulista supera a
carioca.
. O encilhamento: O ministro da Fazenda de
Deodoro da Fonseca era rui Barbosa, um importante intelectual liberal. Ele adota
uma política emissionista para desenvolver a industrialização no país e aumentar
a arrecadação do Estado, o encilhamento. Há, de fato, um impulso à indústria no
período, mas também uma grande especulação.
História do Brasil - 14 - A República
oligárquica
1. Introdução:
Após a saída dos militares do poder e a chegada
dos civis em 1894, há a vitória do grupo liberal e federalista dos
cafeicultores, o projeto destes é imposto como um todo. Uma república baseada
nos poderes locais e regionais, com pouquíssima cidadania e com um liberalismo
excludente e autoritário, que perdura até
1930 com poucas modificações em seus elementos
essenciais.
2. O governo dos cafeicultores
(1894-1930):
. Grandes cafeicultores: A base de sustentação
de todo esse regime oligárquico vai ser os grandes fazendeiros, em especial os
cafeicultores e dentro deste grupo, principalmente os cafeicultores
paulistas.
. Política dos governadores: Foi criada pelo
segundo presidente civil eleito diretamente, Campos Sales. Essa política tinha
por objetivo excluir os conflitos entre a esfera estadual e a esfera nacional e
também o conflito entre os três poderes. O presidente da República apoiaria as
oligarquias regionais a elegerem seus governadores e estes garantiriam a eleição
de parlamentares afinados com o presidente da República. O presidente, assim,
tinha base no Congresso e as oligarquias se perpetuavam no poder estadual.
. Política do café com leite: O Partido
Republicano era o maior partido do país, no entanto, ele era dividido em
partidos estaduais. Assim existia o Partido Republicano Paulista – PRP –, o
Partido Republicano Mineiro – PRM – etc. Esses dois estados, Minas e São Paulo,
tinham as oligarquias mais fortes e eram os estados mais populosos, com mais
votos. Assim, os líderes do PRP e PRM passaram a se revezar na presidência da
República, na chamada política do café com leite.
. Justiça eleitoral: Essa é mais uma
característica política da Primeira República. Não existia Justiça Eleitoral
nessa época, mas sim uma ‘Comissão de Verificação’, fiscalizada pelo Legislativo
e pelo Presidente da República. Logo, a fiscalização sempre apoiava o poder
oligárquico local.
. Coronelismo: O termo coronel vem da patente
na extinta Guarda Nacional. Esses coronéis da República Velha tinham um poder
sobre os eleitores locais e impunham esse poder com a ajuda de jagunços. Esse
poder local era facilitado pela inexistência ainda da radiodifusão. Os coronéis
ganhavam algo em troca dos governantes pelo voto em favor destes. Havia muita
fraude e muitos eleitores fantasmas. Os governantes ainda beneficiavam suas
famílias e havia muito nepotismo. A cidadania era extremamente restrita.
3. O governo para os cafeicultores:
. Funding loan: O Estado brasileiro se
endividou bastante no início da República Velha e a arrecadação era pouca, já
que vinha apenas das importações. Para pagar essas dívidas, o governo teve que
apelar para um funding loan, que é uma forma de rolamento da dívida. O governo
pegou um empréstimo de consolidação para pagar dívidas anteriores em 1898. Como
hipoteca desse empréstimo o governo colocava a renda da alfândega, ou melhor, se
o país não conseguisse pagar a dívida, o governo assegurava que os credores
poderiam ficar com a renda dos impostos de importação.
. As valorizações: Com o aumento descontrolado
da produção de café, o preço do produto no mercado internacional cai a valores
baixíssimos. Em 1906, para resolver o problema, os governadores de São Paulo,
Minas e Rio – os maiores produtores de café – reúnem-se em Taubaté e decidem
pela primeira política de valorização do café. Segundo esta, esses governos
estaduais comprariam a produção excessiva e aumentariam impostos para novas
produções. 8,5 milhões de sacas foram compradas entre 1906 e 1910.
. A diversificação nas exportações: O Brasil na
Primeira República passa a exportar outros produtos antes não exportados. Assim,
a borracha amazônica é exportada. O cacau, o algodão e o fumo além do açúcar no
Nordeste. Além dos produtos tradicionais da pecuária, o Sul passa a exportar a
erva-mate. Porém, mesmo com toda essa diversificação, o café era o principal
produto de exportação brasileiro, fornecendo o país 60% do mercado mundial do
produto.
. Industrialização limitada: A industrialização
no período, como já foi assinalado, era limitada. Além disso, era dependente da
importação de máquinas estrangeiras. O governo ajudava um pouco aumentando taxas
de importação de produtos que competiam com a indústria nacional. A limitação e
a dependência da industrialização nacional ficaram patentes com a Primeira
Guerra Mundial (1914-8), quando o país teve dificuldade de conseguir máquinas,
equipamentos e matérias-primas no mercado internacional. O resultado foi uma
estagnação no período, com uma leve redução da produção industrial em
1918.
História do Brasil - 15 - As Rebeliões da
República Velha
1. Introdução:
Toda a imposição dessa república oligárquica
excludente e esse cerceamento da cidadania não iriam ficar sem reposta das
classes populares. Várias são as revoltas contra a nova ordem antes da década de
1920 e muitas mais depois disso – que veremos na aula seguinte. Algumas de
enorme tamanho, como o Contestado.
2. Revoltas rurais:
. Canudos (1893-97): Assim como o Contestado,
essa é uma revolta rural, contra a oligarquia e com características messiânicas,
com uma religiosidade acentuada.
. Canudos, local livre do mandonismo: Desde
1870, o beato Antônio Conselheiro percorria o sertão nordestino com seus fiéis
construindo instituições como igrejas, escolas e orfanatos. Ele e seus fiéis se
instalam em Canudos, sertão baiano, formando uma vila com autonomia das
oligarquias e produção própria.
. O cerne da questão: Muitos camponeses e
empregados de fazendeiros vão para o arraial de Canudos e lá são recebidos. Isso
fere o interesse dos fazendeiros da região, que começam a se ver sem braços em
suas fazendas. Tantas pessoas para lá foram que a cidade chegou a ter quase 30
mil habitantes. A Igreja Católica passa a condenar Conselheiro e os fazendeiros
pedem a intervenção militar no local.
. A repressão: São mandadas quatro expedições
para o local e a população do arraial resiste. Faz-se uma propaganda de que se
tratava de uma resistência monarquista, o que não era verdade. A quarta
expedição com 8 mil homens do exército massacra o arraial em 1897.
. Guerra do Contestado (1912-6): Trata-se da
maior revolta do período, ocorre na divisa entre Paraná e Santa Catarina, em uma
região contestada pelos dois estados. Assim como Canudos, é uma revolta contra o
mandonismo local e messiânica, sendo a comunidade do grupo profundamente
religiosa.
. A comunidade: Os monges João Maria e depois
José Maria lideram um grupo de pessoas desalojadas pela construção de uma
ferrovia, eles são expulsos de todos os lugares que vão. Eles se instalam em um
local, fundando lá uma cidade santa, onde fazem sua produção e também saques nas
regiões vizinhas. A comunidade sofre sucessivas incursões até ser massacrada em
1916.
. Cangaço ou banditismo social (1870-1940): É
característico do Nordeste e constituído por pessoas que saqueavam para poder
viver. Seu expoente maior foi Lampião, que atuou na região de 1920 a 1938.
4. Revoltas urbanas:
. Revolta da Vacina (1904), as epidemias no Rio
de Janeiro: Durante toda a segunda metade do século XIX, a cidade do Rio de
Janeiro foi lugar de várias epidemias terríveis de varíola, febre amarela, peste
bubônica e cólera. Milhares de pessoas morriam e não se conseguia erradicar
essas doenças.
. As reformas Pereira Passos: Rodrigues Alves
(1902-6) foi eleito com o projeto de melhorar o porto e sanear a cidade do Rio
de Janeiro. Ele indica como interventor da cidade – prefeito não eleito –
Pereira Passos e Oswaldo Cruz para resolver o problema da saúde. A principal
reforma é a construção de um novo e moderno porto na cidade. Porém a reforma
inclui construção de amplas avenidas, desmontes de morros e caça aos cortiços.
As pessoas que viviam nos lugares onde passavam as avenidas projetadas seriam
deslocadas à força. Na parte da saúde, houve a caça aos ratos e decidiu-se pela
vacinação obrigatória contra a varíola.
. A revolta: A campanha da vacinação
obrigatória não teve um esclarecimento prévio da população e esta duvidava da
real capacidade da vacina. A população, com o acúmulo da decisão de expulsão de
seus lares e obrigação da vacina, revolta-se. Criou-se uma liga contra a
vacinação obrigatória, inclusive com a presença de políticos. A insurreição
contou com revolta militar, barricadas nas ruas, depredação de bondes, de lojas
e órgãos públicos. Houve grande repressão, mas a obrigatoriedade da vacina
deixou de existir.
. Revolta da Chibata (1910), as condições dos
marinheiros: Os homens da marinha eram muitas vezes recrutados à força dentre os
‘vagabundos’. A posição deles dentro do corpo militar da marinha era similar a
de escravos, inclusive com castigos físicos, em especial, as chibatadas.
. A revolta: Os marinheiros de quatro navios se
revoltam, matam seus superiores e fazem duas exigências apenas: o fim dos
castigos físicos e a melhoria da alimentação. Sob a liderança de João Cândido,
ameaçam bombardear a cidade.
. Conclusão do movimento: O governo aceita as
exigências e ‘concede’ anistia aos revoltosos. Terminada a rebelião, todos os
revoltosos são presos ao contrário da garantia dada. Muitos deles morrem nas
prisões.
História do Brasil - 16 - A Crise dos Anos
20
1. Introdução:
Apesar de importantes e grandiosas, as
rebeliões vistas anteriormente não tinham objetivo nem projeto para superar
aquela República corrupta e elitista. Já nos anos 20, de todos os lados vêm
críticas e projetos alternativos à República liberal. Esses movimentos vão
desembocar na Revolução de 1930.
2. Sintomas da crise:
. As novas valorizações: Houve mais dois
períodos de valorização do café, de 1917 a 1920 e de 1921 a 1930. A produção de
café só aumentava e não havia margem no mercado internacional para absorver toda
esta produção. A valorização inclui uma política emissionista e desvalorização
cambial, o que acarreta uma carestia. Ou melhor, toda a população pagava pela
valorização, o que foi motivo de indignação e revoltas.
. O tenentismo: Este movimento é constituído
pela classe média e por militares indignados com as estruturas políticas da
República Velha. Trata-se de um movimento elitista, autoritário, nacionalista e
centralista. Vai ter grande adesão nas oligarquias dissidentes.
. O governo Artur Bernardes (1922-6): O PRP e o
PRM arranjam a eleição do mineiro Artur Bernardes para presidente em 1922 e do
paulista Washington Luís em 1926. As oligarquias gaúcha, baiana, pernambucana e
fluminense se revoltam contra o arranjo e tentam impedir a posse de Bernardes.
Esse assume e declara estado de sítio. Dá-se uma série de revoltas tenentistas
como a dos 18 do Forte e a Coluna Prestes.
. A Coluna Prestes (1925-6): Duas revoltas
tenentistas se formam em São Paulo e no Rio Grande do Sul. Os dois grupos se
juntam e fazem a Coluna Prestes, sob liderança do militar Luís Carlos Prestes.
Essa coluna percorreu o interior do país lutando contra os exércitos legalistas,
obtendo seguidas vitórias. Desfez-se depois. Os membros da coluna defendiam o
voto secreto, o fim das fraudes eleitorais, o castigo para os corruptos e a
liberdade para os presos políticos de 1922, dentre eles membros da revolta dos
18 do forte.
. A semana de arte moderna: Tido como um grande
marco na história da arte no país, aconteceu em São Paulo e trouxe as novas
tendências modernistas da arte. Rompia-se com o simbolismo e o parnasianismo e
havia grande influência das novas tendências da arte internacional. Parte desses
artistas é engajada e critica a República em suas estruturas políticas. Outra
parte não mistura arte com política e defende a arte pela arte.
3. O movimento operário na Primeira
República:
. Surgimento do operariado: Com a
industrialização do país a partir de 1880, surge o operariado. Há grande
presença de estrangeiros entre os operários, principalmente portugueses,
italianos e espanhóis, mas há também um grande contingente de trabalhadores
nacionais.
. Situação dos operários: Era terrível,
trabalhavam 12 a 14 horas, inclusive mulheres e crianças que eram abusados por
patrões e mestres. As condições de saúde eram ruins, havendo doenças, como a
pneumonia nas fábricas de vidro. A única lei trabalhista até 1930 foi a da
regulamentação do trabalho infantil de 1927.
. A posição do governo: A cartilha do
liberalismo excludente valia inteiramente na questão do movimento operário. Não
se coibia a formação de sindicatos e também não havia legislação trabalhista, a
relação entre capital e trabalho era tida como questão privada. Greve e outros
protestos operários eram questão de polícia.
. O movimento operário: Mesmo com a liberdade
de ação e péssimas condições de trabalho, o movimento operário não teve muita
força no Brasil neste período devido à existência de diversos estrangeiros e
trabalhadores nacionais, possibilidade de ascensão social, vestígios da
escravidão, racismo e repressão.
. Anarquismo: Foi o grupo mais forte no
movimento operário até os anos vinte, principalmente em São Paulo. Organizaram a
grande greve de 1917. Defendiam: a liberdade total do indivíduo, a cooperação
voluntária, a ação direta, o fim do Estado e de toda a forma de poder e
hierarquias. Eram obreiristas e insistiam em temas com pouca adesão nas classes
populares, como anticlericalismo e antimilitarismo.
. Socialismo: Assim, como os trabalhistas, eram
menos numerosos que os anarquistas. Defendem: reformas trabalhistas, reformas
dentro do sistema, sufrágio universal, distribuição de renda, divórcio, imposto
de renda e imposto sobre herança.
. Trabalhismo: Uma espécie de socialismo
reformista, foi importante no Rio de Janeiro. Defendia a cooperação entre
empresários e patrões e ganhos graduais conseguidos em reivindicações
pacíficas.
. A fundação do PCB (1922): Com a Revolução
Russa de 1917, o movimento comunista ganha força no mundo em detrimento de
outras vertentes operárias. Assim, anarquistas e outros fundam o Partido
Comunista do Brasil em 1922, vinculado ao Komintern. E tentam se vincular aos
movimentos operário e camponês.
História do Brasil - 17 - A Revolução de
1930
1. Introdução:
Essa revolução marca o fim da República Velha e
suas podres estruturas políticas. Trata-se de um dos maiores marcos na história
brasileira dentro do século XX. Caem as antigas oligarquias e agora o Estado
será incentivador da industrialização, que se diversificará.
2. A crise de 1929 e o golpe de 30:
. A crise de 29 e o Brasil: A crise
de 1929 e depressão dos anos 30 foi a maior crise do capitalismo de todos os
tempos. Começa nos EUA e espalham-se por todo mundo, afetando todos os países
capitalistas. As exportações de café do Brasil despencam, dando um duro golpe
nos cafeicultores. Decide-se pela queima do café. Isso, porém, não é um fenômeno
unicamente brasileiro, o trigo é queimado na França, o gado é abatido na
Argentina, na Holanda e na Dinamarca, nos Estados Unidos, joga-se leite fora e
desmontam-se carros.
. Governo Washington Luís: O governo Washington
Luís (1926-30) não tinha corrido pacificamente após o turbulento governo Artur
Bernardes (1922-6). Muito pelo contrário, em 1927 o governo promulga a Lei
Celerada que censura a imprensa e restringe o direito de reunião. Ele pretendia
assim calar seus oponentes.
. Questão sucessória: O presidente indica um
paulista pra lhe suceder – Júlio Prestes –, quebrando o pacto do café-com-leite.
Ele pretendia com isso que a política de valorização do café não fosse
desfeita.
. A Aliança Liberal: O presidente de Minas e
membro do PRM, Antônio Carlos, alia-se aos gaúchos e paraibanos, fundando a
Aliança Liberal, que lança o gaúcho Getúlio Vargas para presidente. A Aliança
Liberal defendia uma série de reformas: voto secreto, anistia política, leis
trabalhistas e assistência ao trabalhador.
. Golpe de 30: Como Júlio Prestes vence e o
vice da chapa de Getúlio Vargas é assassinado após as eleições, a Aliança
Liberal junto com o grupo tenentista do Exército toma o poder, empossando Vargas
provisoriamente. O golpe é dado, portanto, por oligarquias dissidentes aliadas
dos tenentes.
3. As primeiras medidas do governo
provisório:
. Os interventores: Vargas teria um primeiro
governo provisório, de 1930 a 1934. Logo após o golpe, ele indica líderes
tenentistas como interventores nos governos estaduais. Há uma forte aliança
nesse momento entre essas oligarquias dissidentes e os tenentes, aliança que
depois será desfeita.
. A nova postura ante o trabalho: Em 1930
ainda, Vargas reformula a máquina do governo, criando o Ministério do Trabalho,
Indústria e Comércio. O que era antes questão de polícia passa a ser questão
política, dentro da esfera do Estado.
. O novo código eleitoral: Em 1932 é publicado
o Novo Código Eleitoral, que sepultaria toda a estrutura política da República
Velha. Nele, previa-se o voto secreto, o voto feminino e representação classista
– representação de deputados eleitos pelos sindicatos de trabalhadores e
sindicatos patronais.
. Os institutos: Outra ruptura na ação do
Estado fica clara na criação dos institutos de planejamento e assessoramento
técnico. São eles: Instituto Brasileiro do Café (IBC), Instituto do Açúcar e do
Álcool (IAA), Instituto Nacional do Mate (INM), Instituto Nacional do Pinho
(INP) etc. Esses institutos eram órgãos do Estado que deveriam planejar a
produção e assessorar produtores, o que destacava uma nova função do Estado ante
a agricultura e o problema da superprodução agrícola.
. Revolta constitucionalista: Em 1932, os
antigos oligarcas paulistas exigem um interventor paulista e civil no governo do
estado de São Paulo. Vargas atende apenas à primeira exigência e São Paulo faz a
sua ‘Revolução Constitucionalista’ que é esmagada em três meses pelas forças
nacionais. O enfrentamento com São Paulo representa uma forte ruptura com a
República Velha.
. O rompimento com os tenentes: Vargas rompe
com os membros do tenentismo durante a revolta de 1932, já que estes se
recusaram a reprimir a revolta paulista. O tenentismo perde força depois disso e
vai se dissolver nos grandes movimentos políticos nacionais dos anos 30.
História do Brasil - 18 - Os governos
Vargas: governo constitucional e movimentos políticos
1. Introdução:
O mundo passa por grandes transformações após o
fim da Primeira Guerra Mundial e mais fortemente ainda depois da crise de 29. O
mundo do entre-guerras é descrente no liberalismo e altamente radicalizado,
polarizado entre os fascismos e o movimento comunista internacional. O Brasil
não ficará fora dessa radicalização, surgem dois grandes movimentos nacionais, a
AIB de direita e a ANL de esquerda.
2. O governo constitucional (1934-7):
. A nova Constituição (1934): De acordo com o
novo código eleitoral, elege-se uma Assembléia Constituinte em 1933 que cria a
nova Constituição. O federalismo seria mantido, o primeiro presidente seria
eleito indiretamente pela Assembléia e o segundo, eleito diretamente. Além
disso, a nova Constituição cria a Justiça do Trabalho, inibe a imigração, cria
uma legislação trabalhista, reafirma o novo código eleitoral, estatiza o
subsolo, nacionaliza a imprensa e prevê a estatização de empresas nacionais e
estrangeiras quando do interesse da nação; ensino pública básico obrigatório. É
certamente uma Constituição mais nacionalista e voltada para os trabalhadores.
Vargas seria eleito pelo Congresso em 1934.
. A legislação trabalhista: A parte da
legislação referente aos direitos trabalhistas previa: regulamentação dos
sindicatos, do trabalho infantil e do trabalho feminino; proibição da
diferenciação salarial por sexo, idade, nacionalidade ou estado civil; são
previstos salários mínimos regionais; carga de 8 horas de trabalho por dia;
descanso semanal; férias anuais remuneradas; indenização em caso de demissão sem
justa causa; regulamentação das profissões e proibição do trabalho infantil
abaixo de 14 anos.
. Lógica da legislação trabalhista: Não se pode
pensar, no entanto, que os congressistas deram isso aos trabalhadores. Em
primeiro lugar, essas eram velhas exigências dos trabalhadores, havia muita
pressão destes para a criação dessas leis. Em segundo lugar, em uma sociedade
capitalista é preciso criar condições mínimas e salários mínimos para que os
trabalhadores possam gastar para que não haja crises de superprodução de forma
tão abundante.
. Sindicalização autoritária: Outra
característica da nova legislação trabalhista era o atrelamento dos sindicatos
ao Ministério do Trabalho. Todo sindicato que existisse tinha que ser registrado
neste ministério e era por este fiscalizado. O governo iria criar um forte
controle sobre os sindicatos, indicando os presidentes dos principais
sindicatos, paralisando as exigências dos trabalhadores. Além disso, perseguia
os que fossem contra essas medidas.
3. Os grandes movimentos políticos:
. Os grandes movimentos políticos do período:
Além de serem fortemente ideológicos, de direita e de esquerda, a AIB e a ANL
têm outra novidade. Ambos trazem conteúdos programáticos nacionais, ao contrário
dos antigos partidos estaduais da República Velha.
. A Ação Integralista Brasileira (AIB): Surgida
em 1932 com a publicação do Manifesto Nação Brasileira feito pelo líder do
movimento, Plínio Salgado, um ex-membro do PRP. Era um fascismo adaptado ao
Brasil, com apenas pequenas modificações. Defendia os valores da pátria, família
e propriedade e era anti-comunista. Incluía membros da antiga oligarquia, a alta
hierarquia militar, o alto clero e uma parcela significativa das classes
populares. Por isso, chegou a ter 500 mil membros. Tinha ainda a simpatia de
Getúlio Vargas, tendo membros dentro do governo. De 1932 a 1935, reprimiu
manifestações de esquerda com grupos paramilitares, de forma similar ao
praticado pelo movimento fascista italiano.
. A Aliança Nacional Libertadora (ANL): Esta
surge como reação à AIB e é fundamentalmente de esquerda. Tem como seu
presidente de honra o líder tenentista – depois adepto do comunismo – Luís
Carlos Prestes. O PCB se articulava dentro da ANL. Essa organização teve muito
menos adesão numérica do que a AIB, tendo um máximo de apenas 50 mil membros.
Havia choques na rua entre a AIB e a ANL.
. Insurreição Comunista de 1935: Chamada
pejorativamente de ‘Intentona’, foi um movimento partido de dentro da ANL que
tentou tomar o poder. Tinha Prestes como líder e articulador dos setores
militares. A insurreição toma o controle da cidade de Natal e mobiliza forças em
Recife, Olinda e no Rio de Janeiro. Foi facilmente debelado pelo Exército.
. Plano Cohen (1937): Chegando perto do fim do
seu mandato, Vargas forja o que seria um plano comunista para tomar o poder, o
Plano Cohen. Ele pede estado de guerra ao Congresso e este concede. Depois, ele
fecha o Congresso, anuncia uma nova Constituição e extingue os partidos, a AIB e
a ANL.
História do Brasil - 19 - O Estado
Novo
1. Introdução:
Em 1937, o país entra na pior ditadura já
vivida até então. Opositores do regime e líderes de trabalhadores são presos e
torturados. A imprensa será censurada e os direitos básicos violados. Há forte
influência do fascismo nas práticas políticas do Estado Novo. Forja-se um novo
modelo de política, o populismo, que dará o tom da política brasileira até
1964.
2. Características do Estado Novo
(1937-45):
. Constituição outorgada (1937): Esta aumentava
o poder do Executivo, que ganha poder sobre estados e, volta e meia, Vargas
ainda nomeia interventores estaduais. O Legislativo continua a existir, mas é
presidido pelo presidente e era eleito indiretamente. A Constituição deveria
sofrer plebiscito popular, o que não ocorreu.
. A censura: A imprensa passou a ser censurada,
como previa a própria Constituição de 37. A censura ficava a cargo do
recém-criado Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). O caso mais severo de
censura foi o do Estado de São Paulo, que chegou a ser confiscado.
. A polícia secreta: Líderes políticos, como
Prestes, foram presos, torturados e, muitas vezes, mortos. O chefe da polícia
secreta é o tenente Filinto Muller que é, também, ex-membro da Coluna Prestes.
As greves foram proibidas, o movimento operário não-filiado perseguido e seus
líderes punidos.
. O imposto sindical: Outra medida de controle
do movimento operário foi o imposto sindical compulsório, onde todos os
trabalhadores formais deveriam pagar o equivalente a um dia de trabalho por ano
para o Ministério do Trabalho, de onde parte era repassada aos líderes
sindicais.
. A propaganda oficial, valorização do
trabalho: O mesmo DIP era responsável também pela propaganda de Estado. A figura
de Vargas é explorada como o ‘pai dos pobres’ e coisas do gênero. É criado o
programa de rádio Hora do Brasil, passado em rede nacional em horário nobre com
notícias do governo e do país feitas pelo DIP. Ainda, há uma ideologia de
valorização do trabalho e do trabalhador e desvalorização do malandro.
. O papel diferente do Estado: O
Estado passa a dotar uma postura mais centralizadora, intervencionista e
planejadora. Novos impostos são criados, como o imposto de renda. O Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é criado em 1938, dando mais
informações sobre o país. E é criado também o Departamento Administrativo do
Serviço Público (DASP), que centralizava a administração
pública.
. O novo modelo de industrialização: O Estado
passa a adotar uma política intervencionista e planeja o desenvolvimento. Além
disso, toda a legislação trabalhista fortalecia o mercado interno. Vargas monta
um plano quinquenal com enfoque na indústria de base em 1939 prevendo: uma
indústria siderúrgica, uma fábrica de aviões, construção de hidrelétricas,
ferrovias, uma hidrovia no vale do São Francisco e compra de navios e aviões de
guerra alemães. A Segunda Guerra Mundial iria ajudar o seu plano de
industrialização e o Brasil exportou pela primeira vez na história bens
industrializados ao longo da guerra.
. As estatais: Seguindo o plano quinquenal,
várias empresas estatais foram criadas em áreas que não havia capital nacional
suficiente. Foram criadas: a Vale do Rio Doce em 1942 que explorava os minérios
nacionais; a Fábrica Nacional de Motores em 1943 na cidade do Rio; a Álcalis em
1943, uma indústria química; a Companhia Hidrelétrica do São Francisco em 1945;
e, finalmente, a Companhia Siderúrgica Nacional – CSN
– em 1941 na cidade de Volta Redonda com
empréstimos norte-americanos. A CSN se ligava à produção da Vale por ferrovia e
recebia o carvão de Santa Catarina pelo mar, trazido em ferrovias do Rio de
Janeiro.
. A Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT):
Toda legislação trabalhista, mais alguns benefícios, como o salário mínimo
nacional – de 1940 –, foram reunidos em 1943 na CLT. Essa só protegia os
trabalhadores urbanos, os rurais não gozam dos mesmos direitos.
. O Brasil na Segunda Guerra: Havia dentro do
governo uma divisão entre ministros e altos funcionários que tendiam para o Eixo
e outros que tendiam para os EUA durante a 2a Guerra. Vargas aproximou-se dos
EUA após receber o empréstimo de um banco norte-americano para a construção da
CSN e ao perceber que poderia ser invadido por tropas daquele país. Em 1942,
libera Natal e Fernando de Noronha para a presença de militares norte-americanos
e após perder 18 navios, declara guerra ao Eixo. O Brasil ajuda com matérias-
primas e com a Força Expedicionária Brasileira – FEB –, força com 23 mil homens
que foi lutar na Itália.
. A cultura no Estado Novo: O período 1934-45 é
chamado de Tempos Capanema na área da cultura,
devido à ação desse ministro no Ministério de
Educação e Saúde (MES). Ele impôs uma autoritária política cultural em um modelo
nacional que unia hierarquicamente o erudito e o popular. Houve ainda um grande
incentivo à educação básica no período.
História do Brasil - 20 - A República de
1945
1. Introdução:
A República que vai de 1945 a 1964 é uma
continuação de certas práticas políticas e da lógica do Estado Novo (1937-45). O
que prevalece nos dois períodos é o populismo. Este é um fenômeno
latino-americano de meados do século XX. Nele, há a manipulação da massa
trabalhadora por líderes políticos, mas ao mesmo tempo, há o reconhecimento da
cidadania e concessões aos trabalhadores.
2. A queda de Getúlio:
. Os ares da redemocratização: Em 1943, com a
derrota alemã em Stalingrado, a invasão do Sul da Itália pelas tropas aliadas, e
a vitória sobre os japoneses em Midway, fica clara que a vitória aliada na
Segunda Guerra seria apenas questão de tempo. Os líderes aliados passam a ter
reuniões periódicas para decidir pelo futuro da Europa e do mundo. A vitória
sobre o nazismo e o fascismo representava a vitória da democracia sobre
ditaduras ultra-autoritárias. Há um vento de democratização no mundo. Com as
tropas brasileiras lutando ao lado das forças democráticas contra o fascismo,
inicia-se uma pressão pela democracia no Brasil.
. A pressão interna pela democracia: Nesse
mesmo ano de 1943 surge uma oposição a Vargas que exige a democracia. Este a
promete para o fim da guerra. Acabando a guerra em 1945, há grandes agitações
nas cidades pela democratização do país. Vargas dá a anistia aos presos
políticos.
. Os novos partidos: Nesse contexto, ressurgem
os partidos no país. Do próprio aparato do Estado Novo, surgem o PSD – Partido
Social Democrático – e o PTB – Partido Trabalhista Brasileiro. O primeiro era
composto por grandes proprietários e era ligado a Getúlio, foi o partido mais
forte durante a nova democracia. O PTB também vem do aparato governamental, é
constituído por sindicalistas e simpatizantes da causa trabalhista. A UDN –
União Democrática Nacional – é um partido elitista assim como o PSD e é forte,
porém é duramente anti-getulista. Da UDN depois surgirá o PSB – Partido
Socialista Brasileiro. Ainda, o PCB é legalizado.
. O queremismo: Um grupo de trabalhistas cria o
movimento Queremos Vargas ou queremismo, defendendo a continuidade de Vargas no
poder. O PCB apóia o movimento, inclusive o seu líder recém- liberto pela lei de
anistia, Luís Carlos Prestes. Isso se deve a uma orientação do Komintern de se
apoiar frentes nacionais anti-imperialistas e anti-fascistas.
. A queda de Getúlio Vargas: Vargas é derrubado
em outubro de 1945 e o poder vai provisoriamente para o poder Judiciário. Este
convoca a nova Assembléia Constituinte e novas eleições. O ex-ministro do Estado
Novo, o general Eurico Gaspar Dutra é eleito presidente pela chapa
PSD-PTB.
3. O governo Dutra:
. A nova Constituição: A Constituição de 1946
diminui novamente o poder do Executivo, onde os ministros devem prestar contas
ao Legislativo e permitindo ainda o mecanismo das Comissões Parlamentares de
Inquérito – as CPIs. A carta mantém a legislação trabalhista do período
varguista.
. O alinhamento na Guerra Fria: Por decisão do
presidente, o país se alinha ao bloco dos Estados Unidos nesse período. O país
faz um tratado de assistência mútua e acordos militares com os EUA. Seguindo a
lógica do alinhamento, o Brasil cortou relações diplomáticas com a União
Soviética e levou o PCB à ilegalidade em 1947.
. A abertura econômica: Dutra recebeu uma
economia bem organizada, saneada e com ampla possibilidade de crescimento.
Vargas havia criado um modelo de desenvolvimento baseado no capital estatal e no
capital privado nacional, com uma participação menor do capital internacional.
Seguindo a lógica do alinhamento, ele abre a economia para as multinacionais,
enfraquecendo o empresariado nacional. Mesmo assim, o crescimento econômico no
período foi altíssimo.
. O salário-mínimo: Apesar de todo o
crescimento econômico e desenvolvimento em geral, Dutra congela o valor do
salário-mínimo em sua gestão, fazendo esse salário se desvalorizar. Este surgiu
um 1940 e equivaleria a R$828,00 – este e todos os outros valores são
equivalentes ao Real de 2004. O salário-mínimo retoma o seu valor no período
entre 1952 e 1964, chegando ao ápice de R$1.036,00 em 1957. Após o golpe
de 1964, o salário-mínimo seria novamente congelado por 8 anos, chegando ao
final da ditadura com um valor próximo ao atual.
História do Brasil - 21 - A República
populista, nacionalismo econômico
1. Introdução:
Vargas voltaria ao poder eleito pelo voto
popular em 1951, ficando até 1954. Ele retoma uma política de desenvolvimento
autônomo nacionalista com amplas concessões às classes populares. Acaba gerando
uma forte oposição ao seu projeto, dentro e fora do país. O desfecho dessa
história é bem conhecido.
2. A volta de Vargas ao poder:
. A eleição de Getúlio Vargas: Vargas – que
estava em exílio político em sua cidade natal, São Borja – lança-se a presidente
da República em 1951 pelo PTB, sem o apoio do PSD, e vence.
. O projeto nacionalista: Vargas cria um amplo
projeto de desenvolvimento de caráter fortemente nacionalista, que priorizaria o
fortalecimento do capital nacional. Passa a adotar uma política externa mais
independente, sofrendo retaliações do presidente norte-americano, Esienhower.
Este rompe o acordo de desenvolvimento com o Brasil.
. A aliança com os trabalhadores: Vargas
pretendia reforçar a aliança populista com os trabalhadores, prevendo novas
concessões sociais. Foi nomeado para ministro do Trabalho João Goulart, que
chegou a criar um projeto de aumento de 100% do salário mínimo, não aceito pelo
Congresso.
. O BNDE: É criado no governo Vargas o Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE) – que depois foi acrescido de um
‘s’ de social e passou a se chamar BNDES. Este passou a ser, a partir de então,
um dos principais mecanismos de investimento e desenvolvimento, principalmente
para o capital nacional. Ele usa recursos da União e de impostos trabalhistas e
empresta para projetos de investimento.
. A Petrobrás: O ápice do projeto nacionalista
de Vargas foi a criação da Petrobrás em 1953, empresa estatal que teria o
monopólio sobre a exploração do petróleo no país. Esse monopólio só deixou de
existir no primeiro governo FHC.
. O projeto inconcluso da Eletrobrás: Vargas
criara ainda um projeto de uma ampla estatal, a Eletrobrás, que seguiria o
exemplo da Petrobrás, unificando o sistema de geração e distribuição de energia
no país. Não chegou a ficar pronto, mas a empresa foi criada na ditadura
militar.
. A oposição ao nacionalismo: Há uma forte
oposição ao projeto de Vargas, tanto dentro como fora do país. Essa oposição
conservadora é, muitas vezes, ligada ao capital internacional. A principal
figura dessa oposição era Carlos Lacerda, jornalista do Rio de Janeiro, membro
da UDN.
. O suicídio: Lacerda sofre um atentado perto
de sua casa, morrendo um militar que estava com ele. Descobre-se que o atentado
tinha sido forjado pelo chefe da segurança pessoal de Vargas, o que leva ao
pedido de renúncia de Getúlio. Havia ainda denúncias de corrupção no governo.
Membros da alta cúpula militar exigem a renúncia de Vargas. Este, então,
suicida-se, causando um grande alvoroço popular na cidade do Rio de Janeiro. O
jornal Tribuna da Imprensa de Carlos Lacerda foi apedrejado pela população
revoltosa e o mesmo Lacerda teve que fugir da cidade temporariamente.
História do Brasil - 22 - A República
populista, internacionalização da economia
1. Introdução:
O governo Juscelino Kubitschek representa uma
forte ruptura com o nacionalismo do segundo governo Vargas. JK abriria a
economia para as multinacionais, que estavam em época de grande expansão pelo
mundo. Essas transnacionais se consolidariam na economia nacional, tornando a
economia brasileira seriamente dependente a partir de então. São estas mesmas
multinacionais que irão exigir o golpe em 1964.
2. A abertura e o desenvolvimento no governo
Juscelino Kubitschek (1956-60):
. A eleição de Juscelino: Uma série de
presidentes governou legalmente até que novas eleições fossem feitas. Nessa nova
eleição, vence JK pela chapa PSD-PTB com uma bandeira de desenvolvimento.
. A tentativa de golpe antes da posse: A
oposição udenista não aceita a vitória de Juscelino e tenta um golpe antes da
posse. Carlos Lacerda forja com líderes militares uma tentativa de golpe, que
foi frustrada pelo marechal Lott, que assegurou a posse de JK.
. Plano de metas: JK tinha o plano de 31 metas
para o seu governo que incluíam projetos nas áreas de: energia, transporte,
alimentação, indústria de base, educação e, o mais importante, a construção de
Brasília. Trata-se de um amplo plano de desenvolvimento nacional, que era
chamado na campanha de ‘50 anos em 5’.
. O capital estrangeiro: O plano fomentou o
fortalecimento do capital nacional em algumas áreas da economia,mas abriu também
o país para o capital multinacional. Várias indústrias estrangeiras se instalam
no país, principalmente a de produção de bens duráveis, com o emblemático caso
da fábrica da Volkswagen.
. O desenvolvimento no período: A economia
realmente deu um salto no período, com o cumprimento da maioria das metas e a
ultrapassagem das metas em áreas da produção industrial. O setor de bens
duráveis –
indústria automobilística e de eletrodomésticos
– consolida-se no país.
. O novo painel da economia nacional: O governo
JK está dentro de período de maior desenvolvimento da economia brasileira, o
período de 1950 a 1980, quando se consolidou a indústria nacional, inclusive com
a produção de bens de capital e bens de consumo duráveis. A economia passa a ser
setorizada de acordo com os ramos de produção e a origem do capital. O capital
estatal fica responsabilizado especialmente da produção de bens de capital, o
capital multinacional fica fortalecido no setor de bens duráveis e o capital
nacional privado fica restrito ao setor de bens não-duráveis.
. A SUDENE: JK criou a Superintendência de
Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), com o objetivo de fomentar o
desenvolvimento regional dessa região, altamente empobrecida. O desenvolvimento
no período JK, no entanto, só gerou mais desigualdades regionais, com o amplo
desenvolvimento do Sudeste e nenhum desenvolvimento industrial digno de nota no
Nordeste, Centro-Oeste e Norte.
3. As consequências maléficas do governo
JK:
. Um desenvolvimento populista: O plano de JK,
que saiu da presidência com um altíssimo índice de popularidade, podia ser
politicamente muito positivo, porém não se pode dizer que foi tão bom para a
economia. Esta teve um pique de desenvolvimento que levou a uma série de
problemas que virariam obstáculos ao crescimento econômico futuro.
. Corrupção: As várias obras do governo,
especialmente a construção de Brasília, eram acusadas de terem várias formas de
corrupção como: desvio de verbas, licitações fraudadas, utilização de materiais
caros etc. Esta foi tão grande que foi o tema da campanha política do vencedor
nas eleições seguintes, Jânio Quadros.
. Inflação: O crescimento acelerado do período,
sem estabilidade, gerou uma inflação em seguida. O governo seguinte teve que
lidar com esta herança. Essa inflação ainda tira poder de compra do trabalhador
e gera concentração de renda.
. Dívida pública: Os fortes investimentos do
Estado e, novamente, a construção da monumental capital consumiram uma soma
absurda do dinheiro público. Este foi conseguido com empréstimos estrangeiros e
nacionais, que geraram uma forte dívida pública, outro fardo para o governo
posterior.
. Dependência: O projeto nacionalista foi
claramente abandonado na gestão de Juscelino. A instalação das multinacionais no
Brasil levaria à definitiva dependência da economia nacional dos capitais
estrangeiros. Além disso, essas empresas remetem anualmente uma soma elevada de
lucros para as suas sedes no exterior.
. Recessão: Tudo isso levou a economia a parar
de crescer nos anos seguintes ao governo JK. A primeira metade da década de 60 é
de crescimento muito pequeno da economia brasileira, em função dessa forma
populista de desenvolvimento.
História do Brasil - 23 - A crise da
república populista
1. Introdução:
O populismo era um sistema político que
combinava concessões aos trabalhadores urbanos e manipulação política dos
mesmos. Quando os trabalhadores começaram a fazer uma série de exigências que
afetariam os interesses das classes dominantes, o sistema foi abandonado. O
período do governo Jango é de forte radicalização do populismo e dos ganhos
populares, o que foi interrompido pelas classes dominantes.
2. O governo Jânio Quadros:
. As eleições de 1960: A chapa PTB-PSD lança o
marechal Lott para presidente, mas vence o candidato udenista Jânio Quadros por
larga margem de votos. Este centrou sua campanha no combate à corrupção.
. Autoritarismo e conservadorismo: Jânio
Quadros há pouco tinha chegado à UDN e não se alinhava às posições de políticos
tradicionais da UDN, como Carlos Lacerda e Ademar de Barros. Era altamente
autoritário e conservador, tentou controlar os sindicatos, reprimiu revoltas
camponesas e prendeu estudantes.
. Saneamento econômico: Adotou uma política
econômica impopular, austera e recessiva para combater a inflação, que incluía:
congelamento dos salários, restrição ao crédito, corte nos subsídios
governamentais e desvalorização da moeda.
. Política externa independente: Quadros
abandonou completamente o alinhamento ao bloco capitalista da Guerra Fria.
Reatou relações diplomáticas com os países do bloco comunista e tentou aumentar
de 20% para
50% a taxação da remessa de lucros para o
exterior. Ainda, no fim do seu primeiro ano de mandato, condecora Yuri Gargarin
e Che Guevara com a ordem do Cruzeiro do Sul. Isso gera a ira da oposição e
Lacerda vai à TV e diz que Jânio iria cubanizar o Brasil.
. Tentativa de golpe: Jânio é pressionado pela
alta cúpula militar a renunciar. Em uma tentativa de golpe, renuncia esperando
que o povo o recolocasse no poder com amplos poderes. Porém, o auxílio popular
não veio.
3. A difícil posse de João Goulart:
. O vice Jango: Segundo o sistema político da
época, as eleições para presidente eram separadas das eleições para vice. Assim,
foi eleito João Goulart vice-presidente pelo PTB, chapa política oposta à
UDN.
. A tentativa de golpe: Jango se encontrava em
uma viagem oficial à China e setores do exército e da UDN queriam impedir sua
posse. Militares forjam um plano de abater o avião onde Jango se encontrava, mas
esse escapa da tentativa de assassinato. O presidente interino, um udenista que
era presidente da Câmara, passa a prender políticos varguistas, como o marechal
Lott. Ainda, declara estado de sítio, intervem em sindicatos e jornais. Tudo
isso para impedir a posse de Jango.
. A Campanha da Legalidade: O governador do Rio
Grande do Sul na época, o petebista Leonel Brizola que era genro de Jango,
inicia uma campanha pela posse de Goulart. Adere esta campanha o líder do III
Exército, a divisão do exército no Sul do país, a mais forte divisão do exército
brasileiro. Assim, eles conseguem garantir a posse de Jango.
. O parlamentarismo: O Congresso, porém, não
aceita a posse sem ressalvas. Os parlamentares criam um mecanismo para Jango não
ter o poder. Transformam a república presidencialista brasileira em
parlamentarista, onde o líder maior do país seria o primeiro-ministro, o líder
do Congresso. Assim, estaria limitado o poder de Jango.
. Comando Geral dos Trabalhadores (CGT): Nesse
período, começam a amadurecer movimentos sociais com uma maior organização das
classes populares, em parte devido à crise econômica do período e das perdas nos
salários. Um exemplo disso é a criação da CGT em 1962, a primeira entidade
sindical de caráter nacional.
. As Ligas Camponesas: Na área rural também os
trabalhadores passam a se organizar para conseguir direitos mínimos de trabalho.
As Ligas Camponesas são o primeiro movimento rural de massas.
. Os novos ganhos dos trabalhadores: Alguns
direitos foram conseguidos no período e adicionados à CLT. São: o 13o salário de
1962, o salário-família de 1963 e o Estatuto dos Trabalhadores Rurais do mesmo
ano. Este último dava aos trabalhadores rurais as mesmas condições trabalhistas
que os trabalhadores urbanos.
. Plebiscito sobre o parlamentarismo: Com a
adoção do parlamentarismo, decidiu-se por fazer um
plebiscito popular para aprovar o
parlamentarismo. Venceu o presidencialismo em abril de 1963, dando de volta
poderes plenos a Jango.
História do Brasil - 24 - O golpe de
64
1. Introdução:
Acima de tudo, o golpe de 1o de abril de 1964
foi um golpe de classe. Golpe feito pelo grande empresariado nacional e
estrangeiro e com o apoio da classe média contra as classes populares. Isso
ficaria nítido com as primeiras medidas do governo. O país inteiro entraria em
um período de trevas e terror.
2. O processo político até a derrocada do
golpe:
. Plano Trienal (1963): Uma das primeiras
medidas do governo de Goulart a partir do momento que ele pôde governar foi a
criação do Plano Trienal, bolado pelo ministro Celso Furtado. O objetivo desse
plano era reduzir a inflação e possibilitar a volta do desenvolvimento através
de uma política de austeridade, o que gerou certa insatisfação popular. Mesmo
assim, o plano conseguiu reduzir a inflação que estava em 52% em 1962 para 10%
em 1965.
. Reformas de base: Ainda em 1963, Jango lança
o plano das reformas de base. Com isso, ele pretendia ganhar o apoio das classes
populares, nas quais ele tentava se apoiar. Ao contrário de outros líderes
populistas, Jango não era autoritário. As reformas incluíam: a reforma agrária,
a tributária, a trabalhista e o controle da remessa de lucros para o exterior.
Havia ainda, paralelo às reformas de base, um amplo plano de alfabetização de
todos os analfabetos do país em alguns anos, programa este interrompido pelo
golpe militar.
. Interesses contrariados: Essas reformas não
agradavam certos setores da sociedade. Os grandes proprietários rurais,
principalmente os com latifúndio improdutivo, eram contra a reforma agrária. As
grandes fortunas do país eram contra a reforma tributária que iria tirar menos
dos assalariados e mais das pessoas com altas rendas. As multinacionais não
queriam pagar altas taxas de remessa de lucros para o exterior, daí serem elas
contra a nova lei de remessa de lucros. Por fim, os empresários nacionais e
estrangeiros não desejavam um avanço maior ainda da legislação
trabalhista.
. Preparação do golpe, o complexo IPES/IBAD:
Esses grupos sociais, grandes fazendeiros, empresários nacionais e empresários
estrangeiros ou empresários ligados ao capital internacional vão se reunir em
dois órgãos que vão planejar o golpe e também a forma de governo após o golpe.
Vão se reunir no Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES) e Instituto
Brasileiro de Ação Democrática (IBAD). Haverá a presença ainda de membros da
Escola Superior de Guerra (ESG) nessas instituições. Ainda, a CIA dará apoio
técnico a estes órgãos e o presidente norte-americano John Kennedy dá dinheiro
aos órgãos e a governos estaduais que apóiam o golpe, como o de Lacerda na
Guanabara e o de Ademar de Barros em São Paulo.
. A ESG: A Escola Superior de Guerra fora
criada em 1949 no governo Dutra e tinha a participação de militares
norte-americanos que prestavam cursos para os militares brasileiros. Os membros
dessa escola, que são de altas patentes militares, têm seguidamente posturas
anti-nacionalistas e alinhadas com os interesses estrangeiros. Ela vai ser
contra os monopólios da Petrobrás e da Eletrobrás durante o governo Vargas. Os
líderes dessa escola serão exatamente os militares que darão o golpe e ficarão
nos mais altos cargos políticos do país na época da ditadura.
. Radicalizações das posições, a esquerda: As
esquerdas se mobilizam fazendo greves, passeatas, debates políticos. A UNE ganha
força e passa a apoiar as reformas de base, defendendo reformas na educação e
nas universidades. Ainda, a CGT passa a politizar o seu discurso, defendendo a
manutenção da democracia e de Jango no poder, além de defender as reformas de
base. A poucos dias do golpe, Goulart faz um discurso na Central do Brasil, no
Rio de Janeiro, onde é recebido por uma multidão de trabalhadores que o
apóiam.
. Um país irreconhecivelmente inteligente:
Junto com toda essa mobilização da esquerda, surgem interessantes movimentos
culturais que traziam grandes novidades. Assim, surgia no período o cinema novo,
a bossa nova, o tropicalismo, um teatro engajado etc.
. Radicalização das posições, a direita: Vários
setores da sociedade se voltam contra o governo. Os tradicionais udenistas
continuam as suas críticas ao governo, principalmente na voz de Carlos Lacerda.
A maioria absoluta dos grandes jornais se volta contra o governo, defendendo
abertamente o golpe em seus editoriais. E a classe média conservadora também se
organiza defendendo os valores tradicionais e o fim do governo Jango na ‘Marcha
com Deus pela liberdade e a família’ acontecida em São Paulo. Uma marcha anti-
comunista e pela ‘democracia’.
. Golpe: Como Jango queria levar as reformas
para referendo popular e previa-se uma vitória esmagadora dessas reformas, dá-se
o golpe civil-militar em 1o de abril de 1964. Um golpe de classe, contra as
reformas e contra a democracia.
História do Brasil - 25 - Ditadura, panorama
político
1. Introdução:
A grande peculiaridade da ditadura brasileira,
que foi uma das várias existentes na América Latina no período, foi que tentou
manter uma falsa impressão de normalidade democrática no país. Assim, o
Legislativo se manteve aberto, assim como o Judiciário e as eleições continuaram
a existir, a não ser para presidente e depois para governador e prefeito das
capitais.
2. A escalada autoritária da ditadura:
. Endurecimento gradual: A ditadura foi aos
poucos ficando cada vez mais autoritária. Isso porque como o regime tentava dar
uma aparência democrática ao país e tinha dificuldade de ganhar eleições e
manter calada a oposição, tinha que apelar a medidas cada vez mais
autoritárias.
. A falácia da intervenção cirúrgica: Castelo
Branco lidera o golpe militar e torna-se o primeiro presidente da ditadura. Em
discurso à nação, afirmava que aquele era um ‘contragolpe preventivo’ e que
apenas faria uma pequena intervenção para depois entregar o país de volta aos
civis. Uma mentira.
. A não-resistência: Apesar de a direita
afirmar que a esquerda estava pronta a dar um golpe, não houve quase resistência
contra o golpe. Jango vai para o Rio Grande do Sul e decide não reagir. Depois,
Brizola criaria uma guerrilha na serra do Caparão, entre Minas e Espírito Santo,
que logo foi reprimida.
. Primeiras medidas: Logo após o golpe, o
presidente dissolveu a UNE, a CGT , as Ligas Camponesas e proíbe as greves.
Ainda, anulou-se a nova lei que sobretaxava a remessa de lucros. O governador de
Pernambuco, Miguel Arraes, é deposto e preso. O salário mínimo seria
congelado.
. AI-1 (1964): O primeiro ato institucional –
ato expedido pelo presidente que valia como lei – legitimava o poder dos
militares, cassava os direitos políticos de pessoas e dava início as
prisões.
. AI-2 (1965): Oposicionistas que foram a favor
do golpe, como Juscelino e Lacerda, esperavam se candidatar a presidente em 65,
mas logo se percebeu que os militares não planejavam fazer uma intervenção
cirúrgica. Em 65, edita-se o AI-2 que faz novas cassações, extingue os partidos
políticos criando o ARENA e o MDB, impõe eleições indiretas para presidente e dá
amplos poderes ao Executivo.
. Congresso dissolvido: Após o Congresso eleger
Costa e Silva como presidente, a Casa se recusa a cumprir uma ordem de Castelo
de cassar o mandato de seis deputados e é dissolvido pelo presidente. Várias
vezes o Congresso seria dissolvido ao longo da ditadura. Uma nova Constituição é
feita em 1967, incorporando o AI-1, o AI-2 e a Lei de Segurança Nacional. A
eleição para governadores passou a ser indireta também.
. A oposição ao regime em 1968: Juscelino,
Jango e Lacerda formaram a Frente Ampla em 1966, uma frente de políticos para
tentar pôr fim à ditadura. Os três iriam morrer ao longo da ditadura em
acidentes misteriosos. Em 1968, em várias partes do país, surgem focos de
resistência como o Congresso secreto da UNE em Ibiúna, a marcha dos 100 mil após
o assassinato do estudante Edson Luís no Rio. Greves estouram em Minas e São
Paulo, mesmo com a proibição destas. No meio de um monte de protestos, no final
do ano o parlamentar Márcio Moreira Alves pede à população que não vá às
comemorações de 7 de setembro. Os
militares exigem que ele seja processado e a
Câmara se recusa a faze-lo. É publicado o AI-5.
. AI-5 (1968): Esse foi o pior dos atos
institucionais que transformou o país em uma ditadura plena. Cancelavam-se os
direitos individuais básicos, como o habeas corpus em caso de crime político. O
Congresso era novamente dissolvido, o presidente ganhava amplos poderes e havia
mais uma onda de cassações e prisões. Órgãos como o SNI ficariam responsáveis
pelas perseguições políticas.
. A resistência: Após a decretação do AI-5,
surge uma série de grupos que defendem a luta armada para derrubar o regime. Há
frentes de guerrilha urbana, como a ALN, PCBR, VPR, o MR-8 e a VAR-Palmares.
Esses grupos fazem sequestros de embaixadores em troca de liberdade de presos
políticos e outros atos contra a ditadura. Houve ainda uma guerrilha rural na
região do Araguaia, liderada pelo PCdoB. Esses grupos foram todos destruídos
pela repressão da ditadura até 1973.
. Os anos Médici: Médici foi o governante do
país após a promulgação do AI-5, foram os anos mais duros da ditadura. Nas
eleições para governador, ignorou os resultados e escolheu 21
governadores.
. A censura: Existe censura aos órgãos de
comunicação e aos artistas desde o golpe de 1964, mas isso vai ser levado ao
extremo com o AI-5, quando será imposta a censura prévia à imprensa. Notícias
como epidemias de meningite e os números dos acidentes de trabalho – que
chegaram a 6.300 casos em 1975 – são proibidas de serem veiculadas.
História do Brasil - 26 - Ditadura, panorama
econômico
1. Introdução:
O modelo econômico imposto na ditadura é o
modelo implantado pelo governo JK, mas levado ao extremo. A setorização da
economia é reafirmada. Para impor esse modelo, que era maléfico para os
trabalhadores, usa-se de grande autoritarismo. Mazelas criadas nesse período são
vividas até hoje.
2. O modelo econômico da ditadura e suas
consequências:
. Primeiras medidas: Logo após o golpe, os
novos ministros da área econômica adotam algumas medidas: livre entrada e saída
de capitais internacionais, fim do controle sobre os preços básicos –
principalmente de alimentos –, arrocho salarial, privatização da Fábrica
Nacional de Motores e da Lloyd Brasil.
. O congelamento do mínimo: Uma das primeiras
medidas após o golpe foi o congelamento do salário mínimo, que acabou por ficar
congelado ao longo de 8 anos. A motivo usado foi que era uma medida para sanear
a economia, afastando a inflação e aumentando o crédito. A medida, na verdade,
aumentou significativamente o lucro dos empresários. Como os trabalhadores
estavam proibidos de fazer greve e os sindicatos estavam cercados pela ditadura,
não havia como fazer exigências de melhorias de salário. Assim, o autoritarismo
e a repressão possibilitaram que o salário mínimo ficasse congelado. Alguns
sindicatos são criados pelo governo com benefícios, como o financiamento da casa
própria.
. O PAEG: O Plano de Ação Econômica do Governo
(PAEG) pretendia, junto com o arrocho salarial, controlar a inflação. Foi feito
pela dupla de ministros Bulhões de Carvalho e Roberto Campos. O plano incluía
corte nos gastos públicos, aumento da carga tributária e contração de crédito. O
plano acarretou na diminuição da inflação e na concentração de renda, estava-se,
assim, preparando a economia para o ‘milagre’.
. A reestruturação do sistema financeiro
nacional: Foi reformulado todo o sistema financeiro do Estado. Cria-se o
Conselho Monetário Nacional (CMN) – autoridade monetária máxima do país –, o
Banco Central (BC) e o hoje já extinto Banco Nacional de Habitação (BNH).
Trata-se de uma estrutura altamente autoritária, nomeada pelo presidente, que
permanece assim até hoje. O Estado aumentaria seu tamanho na economia, com novos
impostos, como o IPI e o ICM.
. O FGTS: Em 1966 é criado o Fundo de Garantia
por Tempo de Serviço que substitui a lei da CLT que prevê estabilidade após 10
anos de serviço. Seria uma poupança compulsória, utilizada pelo governo para
seus gastos e era também um mecanismo que propiciava maior rotatividade da
mão-de-obra.
. O ‘milagre econômico’: Entre 1968 e 1973 a
economia brasileira cresceu em média 10% ao ano, chegando a picos de 14%. O
termo milagre não é bom porque os verdadeiros milagres alemão e japonês duraram
25 anos, o brasileiro durou apenas 6. Esse crescimento coincidiu mais ou menos
com o governo Médici. Houve a incorporação de uma mão-de-obra ociosa e também da
comumente subempregada. No entanto, os efeitos maiores do ‘milagre’ ficaram para
a classe média, uma faixa de 15 milhões de pessoas – em um universo de 100
milhões – que passaram a desfrutar de uma situação de sociedade de
consumo.
. Após o milagre: Com o choque do petróleo em
1973, cessa o imenso fluxo de recursos internacionais para o país. Como não
havia liquidez interna para manter o crescimento, a economia passa a crescer
menos.
. O II PND: O governo Geisel se caracteriza por
uma certa modificação na estratégia de desenvolvimento nacional. Esse plano
tentava manter as altas taxas de crescimento do ‘milagre’ através da
participação do Estado na economia, ao invés do financiamento externo. O 2o
Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND) a busca ainda o controle das
indústrias de ponta, ditas da 3a Revolução Industrial. Assim, investiu-se em
indústria: bélica, de química fina – incluído aí o pró-álcool –, nuclear e
informática.
. Consequências, a década perdida: Os anos 80
seriam chamados de década perdida pela recessão da economia em consequência do
modelo da ditadura. O crescimento na década de 90 seria ainda pior.
. Inflação: O crescimento não sólido da
economia gerou uma inflação que chegaria aos três dígitos em 1980 e tornar-se-ia
descontrolada na década de 80.
. Dívida: Para a implementação de uma série de
obras, o governo se utilizou de crédito no mercado internacional, tornando o
Estado brasileiro altamente endividado, o que limita os gastos públicos até
hoje.
. Concentração de renda: O milagre não foi para
todos, mas para alguns poucos. A miséria persistiu no país e pioraria com as
consequências do milagre. O número de desnutridos no país passa de 27 milhões –
38% da população – em 1961-3 para 71 milhões de pessoas – 67% da população – em
1974-5.
. Corrupção generalizada: Outra marca da
ditadura foi a corrupção generalizada, já que não havia mecanismos de controle
no período e a imprensa era proibida de noticiar muitos casos.
História do Brasil - 27 - Decadência da
ditadura
1. Introdução:
Diante da falência do modelo econômico da
ditadura, o regime perde a sua sustentação, já que o ‘milagre’ tinha dado grande
popularidade ao regime. As pressões internas e externas aumentam e fazem os
ditadores cederem e iniciaram a abertura.
2. A longa queda da ditadura:
. A abertura lenta, gradual e segura: O general
Ernesto Geisel assume em 1974 anunciando a distensão. Realmente, a abertura iria
demorar muito. Só cinco anos depois iria ter-se a anistia, 11 anos depois um
presidente civil, 14 anos para a nova Constituição e somente 15 anos haveria
novas eleições presidenciais.
. Derrota e denúncias: A derrota do partido
oficial, o ARENA para o MDB nas eleições de 1974 iria encurralar o governo. Além
disso, fatos como o assassinato por tortura do jornalista Vladimir Herzog no
DOI- Codi de São Paulo iriam fazer o governo tomarem medidas, não
necessariamente no sentido da abertura.
. Idas e voltas do governo Geisel: Diante desse
quadro de crise e derrotas, Geisel toma duras medidas como o decreto da Lei
Falcão em 1976 que limitava a propaganda política no rádio e na TV para que se
evitassem novas derrotas do governo. Ainda, em 1977, diante da recusa do
Congresso de aprovar a reforma do Judiciário, Geisel baixa o Pacote de Abril que
fechava o Congresso, criava o senador biônico – indicado pelo presidente – e
mudava o peso dos estados no Congresso, tirando força do Sudeste e do Rio Grande
do Sul, onde era fraco o partido oficial.
. Organização da sociedade civil: Vários órgãos
da sociedade vão se voltar contra a ditadura, como a Ordem dos Advogados do
Brasil – a OAB –, a Associação Brasileira de Imprensa – a ABI – e a Confederação
Nacional dos Bispos do Brasil – a CNBB. Todos estes grupos criticarão o
autoritarismo e exigirão a abertura.
. O fim do AI-5: A última medida de Geisel no
poder foi a anulação do AI-5, um avanço em relação à abertura. O chefe do SNI,
general João Figueiredo, seria escolhido o novo presidente do país.
. A anistia: No primeiro ano de mandato do novo
presidente, é anunciada a Anistia, que liberava os presos políticos, abria o
país aos exilados e também anulava os crimes da ditadura, como o assassinato e a
tortura. Assim, líderes políticos como Brizola e Prestes puderam voltar ao
país.
. As greves: O fim do governo Geisel e o início
da gestão Figueiredo seriam marcados ainda pelas grandes greves acontecidas nas
indústrias metalúrgicas do ABC paulista, lideradas pelo sindicalista Luís Inácio
Lula da Silva. A greve de 1978 reuniria 2.500 operários, uma nova greve em 1979
reúne 160 mil metalúrgicos e outra greve em 1980 levaria 100 mil operários a
cruzarem os braços, levando a ditadura a prender Lula.
. Os atentados de direita: Alguns grupos de
extrema direita nas forças armadas seriam contra a abertura e dariam início aos
atentados terroristas contra alvos civis. Havia atentados contra jornaleiros e
tiros eram disparados contra deputados. O ativo jurista contra a ditadura, Dalmo
Dallari, seria sequestrado à época da visita do papa ao Brasil em 1980. Vários
outros seriam organizados pela Aliança Anticomunista Brasileira (AAB), como
atentados a bomba contra a OAB do Rio de Janeiro, contra a ABI no Rio, contra a
Câmara de Vereadores do Rio e no Riocentro. Este último, de 1981, explodiu
durante um show reunindo 20 mil pessoas e organizado pelo Centro Brasil
Democrático (CEBRADE). Felizmente, só matou o militar que iria explodir a bomba
em meio ao show. A investigação feita pela polícia responsabilizou o CEBRADE de
ter explodido a bomba contra os militares. Ainda, em 1978, o bispo de Nova
Iguaçu, D. Adriano Hipólito, adepto da teologia da libertação, é sequestrado e
torturado, tendo uma bomba explodida em sua igreja.
História do Brasil - 28 - A
Redemocratização
1. Introdução:
O Brasil viveu em sua história três longos
períodos democráticos. A Primeira República, de 1894 a 1930, era fortemente
restrita, com poucos cidadãos aptos a votar e altamente corrupta e fisiológica.
A segunda República, 1945 a 1964, era bem mais democrática, mas os sindicatos
eram atrelados ao governo e os analfabetos eram proibidos de votar. A terceira
República, de 1985 até hoje, apesar de vários problemas que há nela, é a mais
democrática de todas, com sufrágio universal, sindicatos livres e constituição
social- democrata.
2. Os novos partidos:
. A liberdade para abertura de novos partidos:
No final de 1979, o Congresso extingue a ARENA e o MDB, abrindo caminho para a
criação dos novos partidos. Segundo a legislação, todos os partidos deveriam ter
um P de partido antes do nome. Isso foi feito para extinguir o termo ARENA, nada
popular.
. O PMDB: O MDB, partido de oposição à
ditadura, vira PMDB prevalecendo como um dos partidos mais fortes do país.
Apesar de ter uma constituição elitista, na década de 80 assume posições
social-democratas. No final da década de 80, desiludido com o governo Sarney,
sairia do seio do PMDB o PSDB, que nasce de centro-esquerda e vai rumando para a
direita, principalmente quando chega ao poder em 1995.
. O PDS, o PPB e o PFL: A ARENA se transforma
depois em PDS. Depois, o PDS se transformaria em PPB, tendo hoje o nome de PP.
Em função das eleições indiretas para presidente em 85, surge uma dissidência
dentro deste partido que dá origem ao PFL. Todos esses partidos são de
constituição elitista e com idéias francamente de direita, tendo práticas
corruptas recorrentes, fisiológicas e nepotistas.
. O PDT e o PTB: Brizola volta do exílio e com
outros trabalhistas históricos do PTB de Vargas e Jango tenta refundar o
partido. No entanto, Ivete Vargas consegue a sigla na Justiça, fundando um
partido de direita vinculado ao PDS. Brizola fundaria, então, o PDT, partido
trabalhista e de esquerda.
. O PT: O PT, que nasce também em 1980, surge
diferente dos outros partidos, por não se vincular a nada da política anterior.
Formado por sindicalistas, ex-presos políticos e intelectuais socialistas de
esquerda, é bem vinculado a movimentos sociais como o MST, a CUT e a parcela de
esquerda da Igreja católica.
. PCs: Os partidos comunistas, que se dividiram
em vários na década de 60, foram proibidos neste momento de voltar à legalidade,
sendo legalizados só no final da década de 80.
3. Os novos organismos sociais e as
mobilizações:
. A reorganização dos sindicatos: A partir das
greves no ABC paulista e outras várias pelo país, os sindicatos se reorganizam e
é fundada a Central Única dos Trabalhadores – a CUT.
. O MST: Em 1984 surge o Movimento dos
Trabalhadores rurais sem terra no Sul do país, espalhando-se depois para o país
inteiro. Esse movimento exige a reforma agrária no país e diante da imobilidade
do Estado, faz ocupações de terras pelo país.
. A reorganização da sociedade: Além desses
grandes movimentos sociais, surgem outros também nem sempre vinculados a
questões políticas ou questões de trabalho. São movimentos feministas,
homossexuais, negros, ONGs diversas e associações de moradores. De qualquer
forma, mostram o ar democrático que se passava a respirar no país.
. Eleições estaduais: Nas eleições diretas
estaduais de 1982 o PMDB consegue a vitória em importantes estados e Leonel
Brizola consegue se eleger governador no estado do Rio de Janeiro, apesar do
boicote da ditadura e das organizações Globo, no que ficou conhecido como caso
Proconsult.
. As diretas já: Em 1984 uma emenda no
Congresso para que houvesse eleições presidenciais diretas no ano seguinte levam
a uma grande mobilização popular. É a campanha das Diretas Já, a maior
mobilização popular da história do país. Reuniu 40 mil pessoas em Curitiba, 50
mil em Natal, 1 milhão no Rio e 1,3 milhão em São Paulo. A emenda, no entanto,
foi barrada no Congresso.
. O acordo para as eleições de 1985: Para a
eleição indireta para presidente, o PDS lança Paulo Maluf e o PMDB Tancredo
Neves. O PDT apóia Tancredo e o PT não. Uma briga interna dentro do PDS leva à
criação da frente liberal, que apóia Tancredo para presidente, dando o nome para
o vice deste, José Sarney. Tancredo venceria, mas morreria antes da posse, dando
lugar a Sarney como o primeiro presidente civil desde 1964.
História do Brasil - 29 - Planos econômicos,
recessão e miséria
1. Introdução:
A década de 80 teve amplos avanços democráticos
na política e na sociedade, ao mesmo tempo que a economia praticamente estagnou,
tendo apenas um ano de crescimento nada sólido, o ano do Plano Cruzado. Em
verdade, a economia não cresce de forma sustentada há 25 anos gerando miséria,
violência e desemprego.
2. Sucessão de planos e continuidade da
miséria:
. Inflação e dívida incontroláveis: A inflação
chegava aos três dígitos em 1980 e a dívida externa superava U$200 bilhões em
1984. O Brasil faz um acordo com o FMI, cujas imposições para liberar o
empréstimo levam à forte recessão. Tanto a inflação como a dívida pública – não
só a externa, mas a interna também – tendiam a aumentar. Esse era o quadro
econômico do país quando Sarney chega ao poder.
. O plano Cruzado: O ministro da Fazenda
Denílson Funaro propõe o plano Cruzado, onde preços e salários seriam
congelados. O plano leva a uma explosão do consumo, o que deu grande
popularidade ao governo. Além disso, gerou também um desestímulo à poupança e
desabastecimento. A economia iria crescer bastante, mas logo os comerciantes
passariam a cobrar um ágio nos preços, o que era a volta da inflação.
. Eleições estaduais e parlamentares: O Cruzado
estava ficando insustentável para as contas do governo. O presidente, no
entanto, segurou o plano até depois das eleições de 1986 para aproveitar a
popularidade do plano. Por isso, o PMDB de Sarney vence em todos os estados,
exceto Sergipe e elege 54% dos constituintes.
. Plano Cruzado II: O plano Cruzado tinha
gerado um grande déficit na balança comercial, dificultando o pagamento da
dívida externa. Acabadas as eleições, o governo decreta o fim do plano, lançando
o Cruzado II, que liberava alguns preços e mantinha outros tabelados, com algum
aumento. Porém, a dívida tornara-se impagável e o governo declara moratória no
início de 1987. O Cruzado II também não segura a inflação.
. Plano Bresser: O novo ministro, Bresser
Pereira, congela preços por 2 meses e aumenta os impostos. O plano não surtiu
efeito, continuando descontroladas a inflação e a dívida. O ministro se demite
no final de 87.
. ‘Arroz com feijão’: O novo ministro Maílson
da Nóbrega tentou implantar um modelo neoliberal, abrindo a economia,
privatizando estatais e cortando gastos públicos. Não controlou a inflação nem a
dívida.
. Plano Verão: Um novo plano é tentado no final
do governo com congelamento de preços e contenção de gastos públicos. Não
adianta, a inflação chega aos 4 dígitos anuais e os juros a 80%.
. A pobreza e a criminalidade: A crise
econômica da década de 80 não se resume às constantes trocas de cadeira da
posição de ministro da Fazenda, muito pelo contrário. Onde ela mais se via era
nas grandes cidades, nos subúrbios, favelas, no campo. A década foi marcada por
saques, revoltas urbanas contra a carestia, greves, pelo desemprego e
subemprego, pelo crescimento da pobreza, da miséria e, principalmente,
pelo aumento estrondoso da criminalidade, vista
nos roubos, sequestros, assassinatos e no tráfico de drogas, que dá um grande
salto nessa década. A criminalidade só aumentou desde então até hoje.
. Desilusões: O governo Sarney não foi
ditatorial, mas estava longe de um regime democrático normal, com fortes
momentos de autoritarismo. É o caso da greve em Volta Redonda em 1988, onde
Sarney convocou o Exército e este matou três operários. Sarney prometera fazer
uma reforma agrária, assentando 1,5 milhões de famílias. Acabou o governo
assentando apenas 70 mil famílias. A violência no campo no período matou 70
pessoas por ano. O país ainda assistiu chocado o assassinato do seringueiro
Chico Mendes.
. Impopularidade e corrupção: No final de seu
governo, Sarney era um dos presidentes mais impopulares da história da
República. Por onde passava, era vaiado com gritos, protestos e até com
tentativas de agressões físicas. A corrupção dos tempos da ditadura continuou no
seu governo, já que os mesmos políticos da ditadura faziam parte do governo.
CPIs chegaram a propor o seu impedimento devido à corrupção.
3. A nova Constituição (1988):
. Definição: A mais democrática Constituição
que o país já teve pode ser considerada uma Constituição social-democrata, por
defender amplos direitos para os trabalhadores e prever uma cidadania
participativa.
. Avanços: A Constituição previu um plebiscito,
realizado em 93, onde o povo decidiria entre presidencialismo, parlamentarismo
ou monarquia e o presidencialismo venceria. Ela acabou definitivamente com a
censura e tornou crime inafiançável a tortura, o tráfico de drogas e o
terrorismo. Determinava uma carga semanal de 44 horas de trabalho, dava
liberdade sindical, amplo direito de greve, licença-paternidade, melhora na
remuneração das férias e da licença-maternidade. A população poderia fazer um
projeto de lei ao conseguir 1% das assinaturas de eleitores.
História do Brasil - 30 - A aventura de
Fernando Collor
1. Introdução:
A eleição para o primeiro presidente civil após
quase 30 anos sem eleições presidenciais não teve um resultado feliz. Diante de
uma eleição estranha, onde os mais tradicionais políticos não foram ao segundo
turno, vence Fernando Collor. Seu curto governo se caracterizaria pela
corrupção, pelo entreguismo econômico e pelo confisco das poupanças.
2. As eleições presidenciais de 89:
. Os candidatos favoritos: Estranhamente, as
eleições de 89 levaram para o segundo turno dois candidatos não favoritos à
presidência. Dentre os candidatos, havia Leonel Brizola, símbolo do trabalhismo
varguista e da República populista. Havia ainda Ulisses Guimarães, o presidente
da Constituinte e grande homem símbolo das Diretas Já. Em função da péssima
situação econômica do país e por ser a primeira eleição para presidente
fortemente marcada pela televisão, esses favoritos perderiam espaço para dois
não tão favoritos.
. Os não favoritos: Lula, apesar de ter sido o
deputado federal mais votado do país, era de um partido ainda pequeno. Collor
era um político de família tradicional em Alagoas, também não tinha uma
projeção nacional. A campanha pela TV mudaria isto. Os dois vão para o segundo
turno.
. A vitória de Collor: Usando de golpes baixos
e explorando a televisão e a amizade com o dono da empresa que detém um
monopólio na teledifusão no país, Collor chega ao poder, apoiado por
empresários.
3. O governo de Collor:
. Confisco das poupanças: No Plano Collor, o
presidente confiscaria as contas correntes e cadernetas de poupança de todos os
cidadãos, como afirmara na campanha que Lula faria. O plano, além de deixar
milhões de pessoas sem dinheiro, não conteve a inflação ou a dívida. O Plano
Collor II também não logrou sucesso.
. Reforma do Estado: Collor propõe uma reforma
do Estado, trata-se de um plano neoliberal, onde foram extintos órgãos da Era
Vargas, como o IAA, o IBC, além da Siderbrás e a Portobrás. Ele vendeu
propriedades da União, demitiu funcionários públicos – os marajás, como dizia na
campanha –, reduziu drasticamente tarifas aduaneiras e deu início a um programa
de privatização das empresas estatais. O corte de gastos foi tanto, que o IBGE
que fazia censos decenais desde 1940 foi por ele impedido de fazer em 1990, só o
fazendo em 1991.
. Efeitos da reforma do Estado: A reforma do
Estado prenunciava o que seria, depois, o triunfo do neoliberalismo na política
de Estado. A abertura das tarifas alfandegárias levou a uma quebradeira de
indústrias nacionais, gerando desemprego e depressão econômica. A produção
industrial do país decresceu
26% em um ano. Com tudo isso, a inflação não
diminuiu sustentavelmente.
. Escândalos de corrupção: Logo, apareceria
outra face terrível do governo Collor, um amplo esquema de corrupção que
desviava dinheiro público para contas pessoais do presidente. Ao total, foram
repassados pela obscura figura de PC Farias, 10 milhões de dólares para as
contas de Collor.
. Os caras pintadas: Diante dos escândalos
revelados pelas CPIs e pelo próprio irmão de Collor, a população – em sua
maioria, estudantes – vai às ruas pedir o impedimento – ou impeachment – do
presidente.
. A queda: Diante de todas pressões dentro e
fora do meio político, a situação de Collor se tornará insustentável. Uma tropa
de choque constituída de Roberto Jefferson e Jorge Bornhausen faz a defesa do
presidente até os seus últimos momentos. No entanto, o Congresso vota pelo
impedimento e no último momento, Collor renuncia, não deixando de perder os
direitos políticos por oito anos.
. Mercosul: É criado em 1991 o Mercado comum do
Sul, acordo comercial para redução mútua das taxas aduaneiras de Brasil,
Argentina, Paraguai e Uruguai. Depois, entrariam como sócios Chile e Bolívia, e
em
2005, a Venezuela.
História do Brasil - 31 - O triunfo do
neoliberalismo
1. Introdução:
A chegada de Fernando Henrique Cardoso o poder,
assim como a continuidade de suas políticas na economia por Lula, marca o
triunfo do neoliberalismo no Brasil. Trata-se de uma visão que econômica que
projeta um Estado necessário. O neoliberalismo é fruto de um contexto histórico
específico, com o fim da social-democracia, do socialismo real e ascensão dos
EUA como única hiperpotência mundial.
2. A imposição do neoliberalismo no Brasil e a
resistência:
. Neoliberalismo, uma definição: Com o fim da
União Soviética e o fim do ‘perigo comunista’, não há mais motivo para a
existência do Estado de bem-estar social no mundo e o chamado Estado de mal
estar social no Terceiro mundo, aí incluído o Brasil. A organização das fábricas
se modifica, com o fortalecimento do capital financeiro. São três as mudanças
defendidas pelo neoliberalismo: na relação capital-trabalho, concretizado na
‘flexibilização da legislação trabalhista’, que é na verdade o fim desta; na
relação Estado- capital, onde o Estado perde tamanho e poder com as
privatizações e a desregulação da ação das empresas; na relação entre Estado e
cidadãos, onde o Estado deixa de oferecer os serviços fundamentais, acabando com
a seguridade social e passando para o mercado a função de prover esses serviços
básicos à população.
. O plano Real: O plano Real ainda
no governo Itamar, feito por seu ministro da Fazenda FHC, caracteriza-se por
indexar o câmbio, elevar impostos federais e reduzir os gastos públicos,
inclusive em educação e saúde. As taxas alfandegárias vão ao chão, trazendo
produtos importados baratos, o que segura a inflação. Isso gera uma onda de
consumo, o que dá grande popularidade a Itamar e ao seu ministro. No entanto, há
aí outro lado. Há uma nova quebradeira na indústria pelo Real valorizado e pelas
taxas alfandegárias baixas. A indústria nacional vai à
penúria.
. A eleição e reeleição de FHC: Com a onda de
consumo gerada pelo plano Real, FHC se elege facilmente presidente sobre Lula em
1994, impondo seu plano neoliberal. No meio do governo, o presidente manda para
o Congresso a emenda da reeleição e esta é aprovada, havendo um escândalo de
compra de votos na votação da emenda. FHC se reelege em 1998.
. As consequências maléficas do plano: Além de
quebrar indústrias e gerar desemprego, o plano Real, indexando a moeda e
baixando as tarifas de importação, eleva drasticamente a dívida externa. Mesmo
com a situação insustentável, o governo mantém o plano até as eleições de 98. No
início de 99, a indexação cambial é desfeita, tendo a dívida aumentado
drasticamente e comprometendo todo o orçamento anual do Estado.
. As reformas empreendidas por FHC: FH afirma
que quer acabar com a Era Vargas no Estado brasileiro. Vê-se claramente quais
são os seus objetivos quando ele afirma isto. Primeiramente, ele termina com a
defesa
da indústria nacional, com a indexação da moeda
e com as taxas aduaneiras. Põe fim ao monopólio de extração do petróleo pela
Petrobrás, fazendo uma grande reforma administrativa dentro desta empresa.
Depois, tenta impor uma série de privatizações, não conseguindo todas. Privatiza
todo o sistema Telebrás por U$22 bilhões e a Vale do Rio Doce. A CSN já havia
sido privatizada na gestão de Itamar por U$1 bilhão. Extingue a SUDENE e a
SUDAM.
. As reformas que ele queria fazer: FHC tinha
ainda o plano de fazer mais privatizações, o que poderia incluir o sistema
Eletrobrás todo – parte dele foi privatizado por ele –, a Petrobrás, o BB, a
Caixa Econômica e as universidades públicas. Queria ainda fazer uma série de
reformas: a previdenciária, feita por Lula que limitaria todas as aposentadorias
e imporia a contribuição previdenciária aos inativos; a trabalhista,
que ‘flexibilizaria’ as relações trabalhistas, ou melhor, iria extingui-las; a
tributária, que reduziria impostos e não escalonaria o imposto de renda.
. A resistência: Nas ruas e nas empresas
públicas, uma série de manifestações, passeatas e greves eclodem contra as
privatizações e as reformas neoliberais. Os movimentos sociais e, na época, o PT
se mobilizam, tendo importância no impedimento de algumas reformas e
privatizações.
. O governo Lula: Apesar de toda a esperança, o
governo Lula manteve as linhas principais do governo anterior, aceitando guardar
grandes somas do dinheiro público para o pagamento da dívida pública e mantendo
o cronograma de reformas, inclusive conseguindo aprovar a reforma da
previdência.
. O futuro: A função da História não é prever o
futuro, mas entender o presente e o passado. Nas eleições de 2006, os principais
candidatos são do PT e do PSDB. Ambos se comprometem a manter a mesma política
econômica e mesma política monetária. Ambos também pretendem fazer as reformas
neoliberais e algumas privatizações. O neoliberalismo ao que parece, portanto,
prevalecerá no futuro próximo do país.
Fonte: Comunitário_Vetor
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