O período inicial da história grega abrange três fases: (1) a Idade do
Bronze (c.3000-c1200 A.C.), durante a qual floresceram as civilizações minoana e
miceniana; (2) a Idade Média grega (c.1100-c.900 A.C.), quando se registraram
vários surtos migratórios no Mediterrâneo; e (3) o Renascimento (séc. IX-VIII-
séc. I A.C.), que assinala o triunfo da civilização helênica e a colonização,
pelos povos da Hélade, de quase todo o mundo mediterrâneo e das costas
ocidentais da Ásia Menor.
Civilizações Minoana e Miceniana.
Por volta do ano 3000 A.C, colonizadores procedentes da Mesopotâmia,
ainda no estágio neolítico, ocuparam Chipre, Creta, algumas das Cíclades
e áreas orientais da Grécia continental. Cerca de um século mais tarde foi
introduzido o uso do cobre. Essa civilização, que teve como centro político e
cultural Cnossos, em Creta, atingiu sua plenitude no séc. XV A.C. A
antiga denominação desse povo é desconhecida, mas a maioria dos historiadores
,baseados em Homero, refere-se a uma civilização minoana, descendente de
Minos. A escrita linear inventada pelos cretenses, com sinais para
sílabas e números, ainda não foi
decifrada.
Os núcleos populacionais de algumas das
Cíclades e das regiões mais quentes da Grécia continental receberam a partir de
2600 A.C. novas ondas de colonizadores asiáticos, que se misturaram aos gregos
ou helenos (jônios, dórios e sólidos) dando origem a uma vigorosa civilização,
que floresceu em Micenas (Peloponeso), Tirinta e
Pilos entre 1650 e 1125 A.C. Registros em escrita miceniana parcialmente
decifrada, revelam que o grego era a língua dos governantes e que pelo menos
alguns dos deuses olímpicos nomeados por Homero já eram então cultuados. O
declínio do comércio com a Sicília, Tróia, Síria e Egito e
o desastre iniciado com a guerra de Tróia levaram essa civilização ao
colapsos.
Movimentos Migratórios
À derrocada da civilização miceniana seguiram-se as migrações que se desenvolveram no Mediterrâneo,
sobre-tudo de povos oriundos do vale do Danúbio, que destruíram os
estabelecimentos da Macedônia, do Epiro e de algumas áreas do mundo miceniano
(aqueus, dórios, eólios e jônios). Somente Arcádia e Ática lograram manter sua
independência. A última dessas grandes migrações data de c.1000 A.C., quando os
atenienses desfecharam a chamada migração jônica, concluída um século depois com
a ocupação das Cíclades, dos setores central e ocidental da Ásia Menor e das
ilhas adjacentes. Outros bandos estenderam essa área de caos à Itália, à Sicília
e ao Norte da África.
O Renascimento
Grego.
Um oásis de civilização, formado pela Fenícia (v.),
Palestina, Síria e Chipre, conseguiu sobreviver a esse período caótico. Os
fenícios fundaram Cartago e outras colônias e, juntamente com Chipre, renovaram
o contato com as ilhas do Egeu, do Peloponeso Oriental e Atenas. Importante
legado da Idade do Bonze foi a poesia épica, transmitida oralmente, e que tinha
na Jônia seu maior reduto. O renascimento do espírito grego nos séc. IX a VIII
A.C. foi um processo gradual, no qual a religião desempenhou papel preeminente.
As tradições políticas do mundo miceniano mantiveram-se na Ática, onde todos os
cidadãos pertenciam a quatro tribos jônicas. Mais tarde, refugiados continentais
organizaram seus pequenos Estados nas ilhas e na costa da Ásia Menor. Os dórios
desenvolveram outro tipo de Estado em Creta e na Lacônia. Na
planície do Rio Eurotas, cinco aldeias uniram-se politicamente para formar
Esparta (v.), à qual ligou-se intimamente o nome do reformador Licurgo e
que rapidamente dominou seus vizinhos mais próximos. Dois outros Estados
dóricos, Corinto (v.) e Mégara, formaram-se da mesma forma, no
decorrer do séc. VIII A.C.
A Expansão dos Estados Gregos
Os pioneiros do movimento de colonização foram os jônios da Ásia Menor
que, liberados por Mileto, fundaram colônias nas costas do Mar Negro na
primeira metade do séc. VIII A.C. Os jônios de Eubéia colonizaram a Ischia e a
Sicília, e os das ilhas foram precursores da colonização da Trácia e da Ilha de
Tassos. Os dórios do continente fundaram as colônias mais fortes . O
surto de colonização continuou até c.550 A.C., quando centenas de colônias
espalhavam-se na costa norte do Mediterrâneo, nas ilhas desde a Espanha ao
Helesponto, no Mar Negro e na costa africana entre o Egito e Cartago. Os limites
dessa área de colonização foram impostos pelos rivais marítimos dos milesianos,
a Etrúria, a Fenícia e o Egito. As colônias gregas eram postos avançados da
civilização helênica, radical e culturalmente fechados, de caráter nitidamente
comercial. A prosperidade súbita provocou perturbações políticas, sendo uma das
primeiras a desagregação do velho sistema de aristocracia hereditária. Em
Corinto, que passara a dominar o comércio ocidental, Cípselo implantou uma
“tirania” que perdurou entre c.657 e c. 582 A.C., repetindo-se o exemplo em
outros Estados. As dificuldades sociais decorrentes da prosperidade foram em
muitos casos solucionadas por árbitros, dos quais o mais famoso foi Sólon de
Atenas, nomeado em 594 A.C. Procurou Sólon ampliar a base econômica de Atenas,
essencialmente agrícola e que permanecera à margem do movimento expansionista.
Data dessa fase, entre 750 e 550 A.C., a adoção da moeda pelos Estados
gregos.
Conflito com a Pérsia
A expansão dos Estados gregos fôra favorecida por circunstâncias
externas. Os Estados civilizados da Ásia Menor, da Síria, do Egito, de Cartago e
da Etrúria eram menos ricos e capazes do que os gregos, o que impedia a eclosão
de qualquer conflito de maiores proporções entre eles. Tal situação, entretanto,
modificou-se quando Ciro, o Grande, incorporou a Líbia ao Império Persa (546
A.C.). Pouco depois, em 514 – 513, Dario I (v.) obteve o contrôle das costas
setentrionais do Mar Egeu, conquistou algumas ilhas gregas da Asia Menor e do
Helesponto e submeteu o rei da Macedônia. Com isso, a vida econômica de todo o
universo helênico foi colocada à mercê dos persas. Por esse tempo Esparta (v.)
se tornara a maior potência grega, dominando (c.550) todos os Estados do
Peloponeso (à execução de Argos) através de uma coalizão militar – a Liga do
Peloponeso. Suas relações com Atenas, a outra grande potência helênica, não eram
boas, o mesmo ocorrendo com diversos outros centros gregos (Argos, Egina, Tebas,
Cálcis). Essa divisão do mundo helênico muito favoreceu a ação dos persas. O primeiro esboço de hegemonia nacional,
ainda que precário, somente se desenhou entre 506-500 A.C., quando Atenas
ingressou na Liga do Peloponeso. Em 498 ocorreu o primeiro choque de vulto entre
persas e gregos, quando os jônios, liderados por Mileto, rebelaram-se contra o
jugo de Dario I. A revolta somente foi sufocada em 494. Os persas
restabeleceram sua autoridade,
estendendo-a, inclusive, à Macedônia. O esfôrço jônico, entretanto não fôra
inútil, pois acordara a Grécia para o problema da união nacional, mais
necessária do que nunca, ante a crescente ameaça do inimigo
comum.
A guerra eclodiu em 490, quando Dario I
capturou a Erétria e deportou seus habitantes. Comandados por Milcíades, os
atenienses conseguiram rechaçar os agressores na Batalha de Maratona (490 A.C.).
Uma revolta egípcia e outra babilônia retardaram por dez anos a nova tentativa
persa, afinal iniciada (480 A.C.) sob o comando de Xerxes I (v.) que conquistou
a Grécia continental até a Beócia, saqueando Atenas. As fôrças aliadas
helênicas, sob a liderança de Esparta, retiraram-se para o Istmo de Corinto, e a
população ateniense foi evacuada para a Ilha de Salamina. Aí os gregos se
reorganizaram e partiram para a contra-ofensiva, infligindo severas derrotas aos
persas em Salamina (480), Micale, Pláteia e Hímera. Pouco depois Atenas fazia
uma aliança defensiva e ofensiva com vários Estados jônicos
As Guerras do Peloponeso e o Século de
Péricles.
Durante cerca de meio século, após a derrota
dos persas, o mundo helênico experimentou notável florescimento, apenas
prejudicado pela primeira guerra do Peloponeso (460-445 A.C.), entre Atenas e a
Confederação do Peloponeso, sob a liderança de Esparta. O séc V, conhecido como
o “século de Péricles”, assinala a cristalização de toda a cultura grega na
História, no Teatro, na Filosofia, na Arte (v. Arte Grega; Clássica, Arte), na
Medicina, na Arquitetura, etc. O período marca também o triunfo da democracia
grega e do imperalismo do Mar Egeu. Com
suas medidas, Péricles (v.) deu a cada cidadão liberdade de língua, de educação,
de pensamento político e de direito ante a justiça; aumentou o mercado de
trabalho, melhorou as condições econômicas e humanizou o tratamento dispensado
aos asilados estrangeiros e escravos; e juntou a tais benefícios uma
Constituição segundo a qual o indivíduo estava diretamente envolvido em matéria
de política e de administração. Internamente, porém, cresciam as dissensões
entre Esparta, líder do bloco peloponesiano, e Atenas, esta última revigorada
por sua heróica atuação durante a guerra contra os persas. A segunda guerra do
Peloponeso (431-404) levaria ao colapso da civilização helênica e à sua
subsequente anexação ao Império Romano. A luta, que incluiu duas fases distintas
(431-421 A.C. e 413-404 A.C.), terminou com a derrota de Atenas na Batalha de
Egos-Potamos. O conflito devastara a Grécia, sobretudo do ponto de vista
político e econômico-financeiro.
Esparta
e os Movimentos de Independência (404-371 A.C.).
Com a
derrota de Atenas, a Constituição democrática de Péricles foi virtualmente
substituída pela oligarquia dos “Trinta Tiranos”, instalada com o assentimento
de Esparta. Pouco depois, entretanto, 400-399 A.C., Esparta teve de enfrentar
uma nova agressão persa, comandada por Ciro, o Moço, que contava então com
auxílio dos lacedemônios, revoltados contra o domínio espartano. O conflito (ao
qual pertence o famoso episódio da retirada dos 10 mil, narrada por Xenofonte)
terminou com a ignominiosa paz de 387-386 A.C., pela qual Esparta cedia à Pérsia
o controle dos Estados helênicos no continente asiático e de algumas ilhas do
Mar Egeu. Essa paz determinou a perda da primazia de Esparta sobre o mundo
grego, que se viu envolvido então nas lutas de independência (379-371 A.C.), ao
longo das quais três forças despontaram: Tebas (v.), a segunda Confederação
Ateniense e a Liga Beócia.
A Disputa entre os Poderes Dominantes e os
Distúrbios Político-Econômicos (371-346 A.C.).
Liderada por
Pelópidas e Epaminondas, Tebas derrotou o exército espartano em Leuctra, na
Beócia, em 371 A.C. A hegemonia tebana, porém, não durou muito, pois Epaminondas
acabou vencido na Batalha de Mantinéia (362 A.C.), na qual os espartanos
contaram com a ajuda dos antigos adversários de Tebas, os atenienses. Exaustos e
divididos, os Estados helênicos do continente formaram então uma liga (362-361
A.C.), da qual, entretanto, ficou excluída Esparta. A época marca a ascensão da
Beócia no cenário grego e o início de acirrada disputa entre os poderes
dominantes, os quais, após a “guerra social” e a “guerra sagrada”, entraram em
colapso quase total, ocasionando graves distúrbios políticos e econômicos no já
conturbado mundo grego, agora sob a ameaça da Fócida. Pouco depois, todavia, em
346 A.C., Filipe ll da Macedônia, agindo por delegação da anfictionia délfica,
esmagava por completo o poderio dos fócios. A derrota da Fócida abriu
caminho ao avanço macedônio nas terras da Grécia Central e, em 338 A.C., nos
campos de Queronéia, Filipe da Macedônia derrotava a oposição armada de Atenas e
Espartas, insuflada pela retórica de
Demóstenes.
O Período Macedônio (338-323 A.C.).
Logo após a vitória de
Cheronéia, Filipe organizou a Liga de Corinto, liderada pelos macedônios,
que incluía todos os Estados da Grécia continental européia, exceto Esparta. Seu
principal objetivo era a mobilização de todos os Estados helênicos para a luta
contra o inimigo tradicional, a Pérsia. Os desígnios do grande chefe macedônio
foram, entretanto, subitamente ceifados, quando um de seus generais o assassinou
em 336 A.C. Sucedeu-o o seu filho Alexandre lll, de vinte anos, discípulo de
Aristóteles e depois cognominado Alexandre, o Grande. Durante dois anos
Alexandre cuidou dos problemas das fronteiras do império e sufocou uma rebelião
em Tebas. Finalmente, em 334 A.C, Alexandre, à frente de 40 mil homens, cruzou o
Helesponto e, de vitória em vitória, numa extraordinária campanha militar,
ocupou todo o vasto Império Persa, chegando até a Índia. Esse grande idealista,
que, mesmo vitorioso, soubera reconhecer e admirar as virtudes persas, não
conseguiu, entretanto, um mundo unificado sob o governo conjunto de persas e
helenos, como sonhara, em virtude de sua morte prematura, aos 32 anos de idade,
na Babilônia.
A Macedônia e os Estados Gregos(323-224 A.C.)
As
conquistas de Alexandre na Ásia trouxeram grande prosperidade ao Mediterrâneo
Ocidental. O acúmulo de capitais permitiu a Atenas equipar uma poderosa frota e
fortalecer as defesas da cidade; com isso, os demais Estados da Grécia
continental usufruíram muitos anos de paz. As notícias da morte do grande chefe,
entretanto, restabeleceram o clima de insegurança, abalando assim as bases da
aliança com a Macedônia. Mais uma vez o mundo helênico dividiu-se em dois campos
opostos: de um lado, Atenas; de outro, sua tradicional inimiga – Esparta. Os
sucessores de Alexandre não herdaram sua visão política de integração dos
impérios grego e persa, o que ocasionou graves perturbações na própria política
interna da Hélade. As cidades-Estados gregas, já emancipadas, voltaram à luta
fratricida. Diversas ligas ou federações foram então criadas visando à unidade
nacional, mas todas, a curto ou longo prazo, terminaram por fracassar. Do lado
macedônio constituíra-se a mornaquia selêucida, que se viu envolvida, entre
275-224 A.C., na guerra contra o Rei Pirro, de Epiro, e pelas intrigas de
Ptolomeu ll do Egito, além de várias outras monarquias helênicas. Quantos aos
gregos europeus, pode-se dizer que seu mais sério ensaio federalista foi a Liga
Aquéia (280-146 A.C.), que reuniu quase todos os Estados do Peloponeso e algumas
cidades de outras áreas, logo seguida da Liga Etólica, cujo período de fausto se
estendeu de 245 a 213 A.C. Enquanto isto, com os macedônios disputando os
despojos do Império Persa e os gregos ainda lutando por sua já esfacelada
hegemonia interna, Roma congregava toda a Itália ao sul dos Apeninos,
constituindo uma nova comunidade que seria, em breve, o novo poder dentro do
mundo helênico.
Domínio de Roma
De 224 a 205
A.c., os macedônios prosseguiram em sua tentativa de firmar-se no mundo grego,
mas sem qualquer êxito significativo. O período de 205-146 A.C. marca o avanço
dos romanos, que em 148, anexaram a Macedônia como província, esmagando dois
anos depois as forças da Liga Aquéia. Posteriormente, todas as demais ligas
foram abolidas e a democracia grega substituída por uma oligarquia de Estados
sob a égide de Roma. Com o colapso da Liga Aquéia e a derrota de Corinto,
principal foco de resistência, a Grécia passou à condição de província do
Império Romano. Alguns Estados porém, como Atenas e Esparta, continuavam a
manter seus direitos como civitates liberae. Os distúrbios no Império
Romano passaram, todavia, a repercutir intensamente dentro do mundo grego, como
aconteceu quando da primeira guerra contra Mitridates (88-85 A.C.) e do conflito
entre Júlio César e Pompeu (48 AC.). Finalmente as requisições feitas à Grécia
por Marco Antônio, em 31 A.C., para sustentar a sua campanha contra Otávio
(futuro Augusto), constituíram o golpe de misericórdia para o
país.
O
Governo Imperial Romano (séc. l A.C. – séc. lll D.C.)
Ao reorganizar as províncias do Império Romano,
Augusto incorporou a Tessália à Macedônia e converteu o restante da Grécia na
Província de Aquéia, sob o controle de um procônsul senatorial romano residente
em Corinto. Diversos Estados helênicos, incluindo Atenas e Esparta, mantiveram
sua condição de cidade livre. Do ponto de vista econômico, entretanto, a nova
província pouco iria lucrar. Somente no campo da cultura é que o mundo grego
faria ainda valer o poderio de sua glória passada e Atenas possuía uma das
principais universidades do Império Romano. Aos poucos, Roma helenizava-se, e a
Grécia colhia os frutos dessa influência, sobretudo durante os reinados de
Cláudio e de Adriano. Até fins do séc. lll, quando Diocleciano reorganizou o
império, os gregos tiveram de enfrentar o perigo de agressões externas, a última
das quais se registrou em 269 D.C. A partir de então, a Província de Aquéia (ou
da Grécia) passou a ocupar uma posição de privilégio na diocese de Mésia,
na época em que o Cristianismo já
começara a dominar e dividir o mundo romano.
O Período Bizantino (séc. lll – séc. XV)
Sob Constantino, o Grande, a Macedônia tornou-se uma diocese da
Prefeitura da llíria e foi subdividida nas eparquias de Tessália, Aquéia
(incluindo as ilhas Jônicas e do Mar Egeu), Epiro (incluindo as ilhas de Corfu e
Ítaca) e Creta, enquanto as demais ilhas gregas formavam a eparquia da Diocese
da Ásia. Foi introduzida uma complexa hierarquia de oficiais imperiais e
elaborado um sistema de tributação para garantir a receita. A elevação de
Constantinopla à condição de capital, em 330, foi prejudicial à Grécia, obrigada
a competir com um novo centro cultural. O comércio e a agricultura declinaram.
Somente a cultura helênica ainda gozava de algum prestígio, elevado ao máximo
durante o reinado de Juliano, o Apóstata. Durante os séc. lV e V ocorreram as
invasões de visigodos e ostrogodos, comandadas por Alarico e Teodorico, de
vândalos, e no séc. IV a dos hunos, em Corinto. No séc. Vll sobrevieram invasões
de ávaros e eslavos. Os imperadores da dinastia isauriana (séc. Vlll – séc. Xll) prosseguiram na tarefa de reorganização
das províncias em temas (divisões administrativas), iniciada, ao que parece,
pelos imperadores heraclianos do séc. Vll. Por volta do séc. X, a Grécia estava
dividida nos temas de Helas, Peloponeso, Nicópolis, Dirráquio, Cefalônia e
Tessalonica, além dos temas marítimos de Samos e do Mar Egeu. Com a conquista de
Constantinopla pelos cruzados (1204) e o subsequente estabelecimento de um
império latino, a Grécia viu-se dividida entre os conquistadores latinos e os
aspirantes bizantinos ao trono imperial, disputa essa que somente terminaria em
1453 com a tomada de Constantinopla pelos
turcos.
A história moderna da Grécia compreende, inicialmente, um longo domínio
turco, o qual, iniciado com a queda de Constantinopla, somente terminaria na
primeira metade do séc XlX, ao surgirem os primeiros sinais de independência. Daí
em diante, a Grécia caminha para a mornaquia, passa por uma breve fase
republicana e retorna em 1935 ao regime monárquico, que perdura até os dias
atuais.
Domínio Turco (1453-1821)
Em algumas
regiões (Trebizonda, Epiro, Rodes, Chipre,Creta e Tênedos), o império dos gregos
ainda sobreviveu à dominação turca durante alguns anos. Quase todas as ilhas
jônicas lograram mesmo escapar-lhe. Os turcos otomanos gozaram de relativa
popularidade durante os primeiros séculos de ocupação, o que se deveu,
sobre-tudo, à capacidade administrativa dos primeiros sultões e, também, ao
caráter não-opressivo dessa ocupação, pelo menos durante a fase áurea do
império, identificado com o reinado de Suleiman, no séc. XVl. Outro fator
preponderante nas boas relações greco-turcas foi o sistema político otomano,
adaptado às condições locais e que, ao menos em parte, conseguiu assimilar a
concepção helênica de nação-Estado. Com o correr do tempo, os gregos começaram a
infiltrar-se nos quadros da administração turca, e vários dos mais importantes
cargos administrativos eram destinados a gregos. Todos esses fatores
contribuíram para um clima de relativa segurança e tranquilidade, afinal rompido
na segunda metade do séc. XVIII, quando do início das manifestações do
nacionalismo grego, severamente reprimidas pelos turcos.
O levante do Peloponeso, em
1770, marca virtualmente o início da moderna história da Grécia. A revolta,
preparada e incitada pela Rússia, apanhou os turcos de surpresa e logrou obter
um êxito inicial. Em 1774, porém, os turcos conseguiram debelar o movimento,
seguindo-se então um período de bárbaras
repressões por parte das fôrças do sultão. Entre os levantes de 1770 e 1821
vários fatos históricos mudaram a situação, tornando-a favorável aos gregos, que
passaram a despertar o interesse de todas as grandes potências da época,
sobretudo Rússia, França, Áustria e Inglaterra. A oportunidade concreta para a
revolução surgiu em 1820, quando Ali Paxá (v.), governador provincial,
rebelou-se contra Sultão Mahmud II. Os gregos levantaram-se em março de 1821 e a
guerra prolongou-se até 1829. Entretanto, desde a Batalha de Navarino, em 1827,
estava garantido o triunfo grego.
A Primeira Fase da Independência
(1829-64)
Entre 1822, quando o Congresso de Epiro proclamou a
independência nacional, e 1829, ano em que o Tratado de Andrinopla constituiu a
Grécia como Estado soberano, o país atravessou uma fase conturbada, sendo o
governo provisório exercido pelo patriota J. Capodistria, assassinado em 1831.
Seguiu-se um período de caos durante o qual se registrou a ingerência de nações
estrangeiras nos problemas gregos. Pela Conferência de Londres (1832), a Grécia
foi definida como reino independente, sob a proteção da Grã-Bretanha, França e
Rússia. Em 1833,a nova monarquia grega
passava a ser regida pelo Rei Oto, da Baviera, por imposição das potências
protetoras,e no ano seguinte a capital foi transferida de Náuplia para Atenas.
Oto governou até outubro de 1862, sempre assessorado por primeiros-ministros
gregos, heróis da guerra da independência. Seu sucessor, o Rei Jorge I, filho do
herdeiro ao trono da Dinamarca, foi escolhido conjuntamente em 1863 pelos
representantes da Grã-Bretanha, Áustria, França, Prússia e
Rússia.
A Nova Monarquia
(1863-1924)
Jorge I reinou por meio século (1863-1913), e seu reinado marcou uma nova
era na história moderna grega. O período destaca-se pelos substanciais
acréscimos territoriais feitos à Grécia, que ganhou a Tessália, a maior parte do
Epiro grego e da Macedônia, Creta e a maioria das ilhas jônicas. Uma nova
Constituição, a de novembro de 1864, abolia o Senado, substituindo-o por um
Conselho de Estado nomeado pela coroa; estabelecia ainda eleições populares para
a escolha dos governos locais; e, finalmente, definia a posição do rei, que
seria apenas instrumento da vontade popular. Tal sistema passou à História com o
nome de democracia monárquica, tendo sido aplicado por Jorge I durante 47 anos
ininterruptos, até a sua revisão, em 1911. Esse clima de estabilidade, contudo,
foi por diversas vezes abalado: em 1866, pela insurreição de Creta; em 1877-78,
pela Guerra Russo-Turca; em 1896-1912, pelo levante conjunto de Creta e da
Macedônia; e, finalmente, em 1912-13, pela Guerra dos Balcans, no decurso da
qual o Rei Jorge I foi assassinado (1913), sucedendo-o então seu filho
Constantino I.Logo após, em 1914, era a I Guerra Mundial que abalaria a
estrutura do regime. Ao Rei Constantino, afastado em 1917, sucedeu Alexandre,
seu segundo filho, que contou com o apoio de um dos maiores nomes da vida
pública grega, o Primeiro-Ministro Eleutherios Venizelos. Alexandre morreu em
outubro de 1920 e, no mês seguinte, Venizelos perdeu o contrôle da situação. A
20 de dezembro daquele mesmo ano, Constantino foi reposto no trono sobe grande
emoção nacional. Em janeiro de 1921, a ocupação de Smirna, na Anatólia, por
fôrças gregas, deu origem a uma catastrófica disputa com a Turquia (1921-1922).
Constantino, responsabilizado pelo desastre, abdicou em favor do Príncipe Jorge,
depois Jorge II. Um ano depois, todavia, a junta revolucionária do Gen.
Plastiras convencia o novo monarca a deixar o país. Essa junta renunciou em
janeiro de 1924 e, em março, a República foi proclamada, sendo confirmada pelo
plebiscito nacional de abril. Seu primeiro presidente foi o Almirante Pavlos
Koundouriotis, herói das guerras
balcânicas.
A República (1924-35)
Koundouriotis foi logo deposto (1926) pelo Gen.
Theodoros Pangalos, que, por sua vez, viu-se derrubado, naquele mesmo ano, pelo
golpe de Estado do Gen. Georgios Kondylis. Este convocou novas eleições e
recolocou Koundouriotis no poder. Em face da gravidade da situação política,
Venizelos foi novamente chamado para o cargo de primeiro-ministro em 1928 e, um
ano depois, Alexandre Zaimis foi eleito o novo presidente. A República parecia
ganhar estabilidade e apoio popular, mas, em verdade , era profunda a dissensão
entre as correntes políticas antagônicas. A posição de Venizelos foi muito
abalada pela crise financeira de 1932, e uma transformação no sistema eleitoral
deu ensejo à formação de diversos grupos que passaram a disputar o poder. Duas
facções sobrepujaram as demais: a dos populistas, sob liderança de Panayiotis
Tsaldaris e que não disfarçava sua intenção de restaurar a monarquia; e a dos
liberais, chefiada por Venizelos e que se batia pela reeleição de Zaimis no
pleito de 1934.
A
Restauração da Monarquia
Em
março de 1935 malogrou um golpe de Estado cujo objetivo era colocar Venizelos no
poder e frustrar as pretensões realistas. Isto significou o fim da carreira
política de Venizelos, tornando certo o retorno de Jorge II, o que de fato
ocorreu em fins de 1935. A monarquia foi restaurada, e a Constituição de 1927,
substituída pela de 1911. A Grécia muito sofreu com a ocupação nazista durante a
II Guerra Mundial quando o Rei Jorge II viu-se obrigado a partir para o exílio.
Terminado o conflito, era flagrante a ascensão da influência dos comunistas,
que, entre 1946 e 1949, chegaram mesmo a instalar um governo provisório nas
montanhas setentrionais. Por algum tempo, os destinos da nação estiveram
entregues ao arcebispo de Atenas, Dimitrios Papandreou, mas, em 1946, um
plebiscito decidiu pela volta de Jorge II. Este pouco sobreviveu, sendo
sucedido, em 1947, por seu irmão Paulo. A Grécia passou então a receber ajuda
maciça dos E.U.A. para conseguir alcançar seus objetivos quanto a um equilíbrio
econômico-financeiro. Apesar disto, ao longo dos últimos 20 anos, o país vem
tendo de enfrentar sucessivas crises políticas e internacionais. A questão de
Chipre, por exemplo, tem contribuído muito para a debilitação do regime, já de
si conturbado por graves distúrbios internos. As eleições de 1964 deram
significativa maioria parlamentar a Georgios Papandreou; nesse mesmo ano,
entretanto, morreu o Rei Paulo, que foi sucedido no trono por seu filho
Constantino. O novo monarca demitiu Georgios Papandreou, substituindo-o
por seu filho Andreas, e, em dezembro de 1966, autorizou Ioannis Paraskevopolos,
presidente do Banco Nacional, a formar novo gabinete. Em março de 1967 o governo
renunciou, assumindo como primeiro-ministro Panayotis Kanellopoulos, líder da
União Radical Nacional. O Parlamento foi dissolvido a 14 de abril, a 21 um grupo
de militares derrubou o governo, aparentemente à revelia do rei, ocupando
Atenas. Sob pressão, Constantino II concordou em apoiar o novo regime, chefiado
por Konstantinos Kollias. A 13 de dezembro, após uma tentativa frustrada de
retornar o contrôle da situação, o Rei Constantino abandonou o país. Tornou-se
primeiro-ministro o Cel. Georgios Papadopoulos, sendo o Gen. Georgios Zoitakis
nomeado para a regência do trono. Em 1968, após o plebiscito de setembro foi
promulgada a nova Constituição.
Nenhum comentário:
Postar um comentário